quarta-feira, 1 de junho de 2011

Educação financeira, subsidiariedade e liberdade de escolha

Erro comum que se comete na nossa sociedade acontece na opção de “financiamento” da herança dos filhos isto é, muitas famílias optam por tomar empréstimo no banco com o pretexto de deixar uma herança para os filhos. Incapazes de controlar o impulso para o consumo e de fazer planeamento financeiro com poupança, acabam por optar pelo caminho mais fácil porém, mais oneroso para a família.
As famílias, muitas vezes, não têm noção exata dos custos (Ex: juros, os benefícios que vão ter de abrir mão) associados á decisão de contratar um financiamento de longo prazo para “investir” em um bem de consumo durável (Ex: Casas, automóvel etc). Quando forem muito altas, as prestações podem provocar perdas na capacidade de consumo, perda de qualidade de vida, stress financeiro que traz problemas mentais, emocionais, perda de laços sociais entre outros problemas que já fazem parte do nosso cotidiano. Os filhos acabam sempre por ser os mais prejudicados com essa decisão. Terão de abrir mão de férias, passeios, sacrificar o consumo e adiar necessidades por uma decisão, que não raras vezes, foi tomada para satisfazer desejos, caprichos e vaidades dos pais.
Preocupados com a estabilidade financeira futura dos filhos várias famílias precipitam e decidem antecipadamente o que deixar para os filhos retirando destes, a possibilidade de opinar e decidir sobre onde preferem morar depois de crescidos, qual o tipo de casa que gostariam de ter, quem serão os vizinhos e principalmente, sem se dar conta do sacrifício que terão que enfrentar durante as melhores fases da sua vida para que a família possa ostentar a casa e o carro. Embora sendo motivada por questões nobres, pode não ser a melhor decisão comprometer grande parte do orçamento familiar com extensas prestações (muitos países costumam recomendar até o limite de 1/3 do rendimento familiar, comprometido com prestações de longo prazo).
A família poderia alcançar uma melhor situação se decidir com a razão ao invés de deixar a emoção falar mais alto e cair na tentação de realizar o sonho da casa própria antes do tempo. Pode-se até justificar o “investimento” com argumentos de carácter social, psicológico etc, entretanto, quando se lida com dinheiro, principalmente em relação a um investimento que compromete elevada parcela do rendimento familiar o argumento deve ser essencialmente económico e financeiro isto é, deve-se usar a racionalidade económica para decidir.
A usurpação do direito de escolha dos filhos aliada às carências que ele terá de passar durante todo o período das prestações pode trazer frustrações futuras e talvez até traumas devido a carências várias.
A nossa história é recente e ainda não nos permite fazer uma avaliação sobre as opções que as nossas famílias tomaram nestas duas últimas décadas. O financiamento massivo para a casa própria, as mudanças estruturais nas construções, o aumento do preço das habitações, as facilidades de financiamento são fenómenos recentes na nossa economia e somente nos próximos anos teremos informações suficientes e evidências que nos permite avaliar os resultados.
As decisões financeiras, principalmente quando envolvem longo prazo de amortização devem levar em consideração a situação futura dos filhos e adequar o tamanho, a qualidade e o tipo de investimento ao orçamento familiar, sem comprometer o bem-estar da família. Mais importante ainda é a ponderação sobre o que a família vai abrir mão no presente para realizar o sonho de ter uma casa da moda ou o carro do ano. Frequentemente não se justifica a compra da casa própria por motivos ligados à segurança financeira do filho no futuro.
Se o motivo do investimento for a segurança financeira da família, as melhores escolhas seriam fazer investimento em bens de capital (ex: acções, empresas, ou algo que da rendimentos para a família) ou uma poupança para o filho que, oportunamente terá a liberdade suficiente para decidir o que fazer com o dinheiro acumulado e, se quiser, pode comprar uma casa NOVA em “Cash” em vez de herdar uma casa VELHA.