segunda-feira, 25 de abril de 2011

Homo fobadus

A clássica teoria económica acredita na capacidade de autoregulação e perfeição do sistema de mercado e no princípio da racionalidade dos agentes económicos. Não precisamos fazer muito esforço para demonstrar que pelo menos em Cabo Verde, muitas pessoas apresentam limitada racionalidade.

A limitada racionalidade dos agentes económicos é determinada principalmente pela informação incompleta, assimetria de informação, inexistência de mecanismos de regulação e estruturas eficientes de “incentivos” na sociedade. As deficiências na racionalidade se verificam principalmente nas nossas relações com o dinheiro. Ainda somos imaturos, incapazes de dar tempo para que as coisas acontecem e é frequente encontrar jovens em situação de inadimplência ou sobre-endividamento.

A influência das técnicas de vendas modernas, marketing, facilidades de crédito, tem levado muitas famílias a tomarem decisões pouco racionais ou ineficientes na afectação de recursos, gerando externalidades negativas e ineficiências no mercado. Frequentemente, os consumidores embora “livres” e soberanos, mas ignorantes, em termos financeiro devido á racionalidade limitada e informação incompleta, são levados a um nível de endividamento insustentável, favorecendo o surgimento do “FOBADU”.

A concentração do gasto das famílias em bens de consumo em detrimento dos bens de capital tem condicionado todo o desenvolvimento da nossa economia. Hoje somos uma economia que cresce porém, não gera emprego. Essa situação se explica pelo facto de que os bens de consumo (casas e automóveis) não geram emprego estável.

Muitas vezes o nosso hábito de consumo é determinado por objectivos não-económicos tais como a vaidade, a ostentação, o consumismo, “basofaria” etc e acabam por nos levar a fazer escolhas pobres na selecção dos investimentos, dificultando o alcance de um melhor desempenho da economia.

O homo economicus, dotado de racionalidade económica, procura acumular capital. Essa é a sua essência - como defendido por Adam Smith - e nesta base ele contribui para o progresso da sociedade capitalista. Entretanto, na nossa sociedade poucos indivíduos demonstram ser homo economicus, limitando o desempenho da nação como todo ao concentrarem os investimentos em bens de consumo (muitas vezes de luxo e importado) em vez de promoverem a acumulação de capital que origina emprego e crescimento económico.

È frequente encontrarmos indivíduos/famílias que tem dificuldade em gerir um orçamento até o final do mês. Essa situação tende a se generalizar na sociedade e actualmente é cada vez maior o número de famílias incapazes de controlar o orçamento familiar, endividados e com pouca esperança de sair desse sufoco. Para corroborar essa teoria pode-se analisar as últimas modas de expressões entre a população e as inovações tecnológicas adaptadas à nossa situação (ex: Txomam, Mandam saldu!, Dja pôdu?, Kau mau!, mariádu!, orientam! Etc).

Sem dúvida, estamos perante um retrocesso da evolução com o surgimento do Homo fobadus e com tendência para um downgrade para a versão, Homo fobadus fobadus.
Neste contexto, a participação e liderança do estado é fundamental, principalmente no estabelecimento de instituições (regras e normas de conduta) e educação financeira que possam moldar o comportamento racional dos indivíduos antes guiados pela vaidade, ostentação e o consumismo. Somente desta forma poderemos garantir maior eficiência da economia.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Educação financeira: investimento imprescindível para a sobrevivência

Da mesma forma que as habilidades académicas são importantes, as habilidades financeiras e de comunicação também o são.”
Robert Kiyosaki & Sharon Lechter

A mal educação financeira dos agentes económicos tem sido um entrave significativo no processo de desenvolvimento de vários países e frequentemente pode ser observado pela predominância dos aspectos emocionais na escolha entre as alternativas de investimentos; concentração dos investimentos das famílias em bens de consumo duráveis tais como imóveis e automóveis, geralmente financiados com recursos de terceiros e cuja procura possui um limitado efeito multiplicador na economia nacional (pelo facto de serem geralmente bens importados) e impactando significativamente de forma negativa na balança comercial; o aumento da procura de bens de consumo de luxo pode aumentar o endividamento das famílias, que tem sofrido ainda com diminuição no rendimento disponível, devido á inflação nos bens alimentares, baixo reajuste nos salários e, pagamento de taxas para manutenção dos “investimentos” do governo; perda considerável das virtudes de uma economia capitalista pelo baixo índice de reinvestimento nas empresas (bens de capital) podendo ter consequências em termos de diminuição no número de empresas, perda de emprego e redução nas taxas de crescimento económico.

Os desafios que se apresentam para grande parte dos países ainda subdesenvolvidos não serão alcançados sem investir na educação financeira que melhora a inteligência e racionalidade dos agentes económicos.
Tendo o governo optado por uma economia de mercado, sujeita ás leis “naturais” da economia, controlada pela imparcial “mão invisível” e liberdade económica, deve adoptar a educação financeira como um dos objectivos de governação pois, sem uma população consciente das suas atitudes perante o dinheiro dificilmente poderemos ter uma economia capitalista saudável isto é, a essência de uma economia capitalista esta no processo de acumulação de capital, e uma população sem educação financeira “investe” em bens de consumo em vez de investir em bens de capital levando a um crescimento económico sem a correspondente redução no desemprego.

Nota-se que a tarefa não será fácil e não existe nenhum Hocus pocus que possa melhorar a inteligência financeira da população. O mercado ou melhor, as livres forças do mercado não propiciam a melhor solução e em tempo útil para o país (que se pretende ser praça financeira), devendo essa tarefa ser liderada pelo estado, de forma parecida com o que se tem verificado no mundo desenvolvido através de um programa nacional de educação financeira.

Esse tema sempre foi uma preocupação de vários países (Austrália, França, Canada, Irlanda, Holanda, Malásia, Singapura, Reino Unido, EUA etc) que já incluíram o tema educação financeira nas escolas e actualmente num cenário de crise financeira a discussão sobre educação financeira se reveste de extrema urgência sendo inclusive condição imprescindível para vencer o grande desafio que se avizinha e ameaça diversos países com níveis elevados de endividamento de famílias, empresas e governo. 

Uma referência que merece ser consultada quando o assunto é a educação financeira é o livro Pai Rico, Pai Pobre de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter. Livro de leitura obrigatória para todos aqueles que querem aumentar a sua inteligência financeira e melhorar a qualidade de vida de forma sustentável. Esses autores defendem que o dinheiro deve trabalhar para você e não o contrario em que você trabalha pelo dinheiro. Essa situação só é possível se as decisões de investimento fossem feitas de forma racional em vez de serem determinadas por factores emocionais tais como a vaidade, ostentação e impulso. Entretanto, numa situação de ignorância financeira e pouca racionalidade económica dos indivíduos a tarefa de aumentar a inteligência financeira cabe ao estado, através de “incentivos” na economia, formação e capacitação da população para fazerem melhores escolhas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Educação financeira e propaganda

A propaganda te incentiva a comprar o que você não precisa, com um dinheiro que não é seu, realizar sonhos que você não tem, para impressionar
pessoas que você não conhece.” Reinaldo Domingos

A influência das técnicas de vendas modernas, marketing, propaganda e facilidades de crédito, pode levar a decisões pouco racionais ou ineficientes na afectação de recursos das famílias e gera ineficiências no mercado. Frequentemente, os consumidores ditos “livres” e soberanos mas, “ignorantes” em termos financeiro (devido á racionalidade limitada e informação incompleta sobre as suas opções), são levados a optar por alternativas de investimentos que não são viáveis financeiramente e acabam por ficar presos a um nível de endividamento insustentável. Essa situação diminui a procura das famílias, diminui o facturamento das empresas, gera expectativas pessimistas quanto ao futuro da economia e reduz os investimentos em bens de capital e, por conseguinte, limita o crescimento económico e geração de empregos.

Muitas pessoas, motivadas por objectivos “não-económicos” tais como a vaidade e a ostentação, acabam por fazer escolhas pobres na selecção dos investimentos, dificultando o alcance de um melhor desempenho da economia. Esse comportamento, quando generalizado na economia, trás problemas sérios tanto para os indivíduos como para as empresas e restringe consideravelmente o desenvolvimento económico do País.

A pouca inteligência financeira e a limitada racionalidade tem padronizado o investimento das famílias á imitação das opções dos vizinhos, sem fazer previamente uma análise financeira e sem levar em consideração as implicações de longo prazo da decisão. A maioria das pessoas acompanha a multidão, fazem apenas o que todo mundo faz ou que a mídia divulga e incentiva através das modernas estratégias de marketing. Sem questionar, com medo do ridículo por contrariar as normas sociais e culturais.

É notório também o equívoco cometido no investimento das famílias, ao confundir passivo com activo, isto é, fala-se frequentemente em fazer “investimento” na casa própria ou num automóvel, sendo que na contabilidade patrimonial esses bens são considerados muitas vezes como passivos e nos deixam mais pobres porque aumentam as nossas despesas mensais (com prestações nos bancos, impostos, combustíveis, manutenção, reparação etc) sem uma correspondente contrapartida em receitas. Portanto, melhorar a literacia financeira da população é uma estratégia eficiente de combate à pobreza e promoção do crescimento económico.

A educação financeira encontra-se associada á habilidade individual para tomar decisões apropriadas na gestão financeira e criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro.

Este tema sempre foi uma preocupação de vários países (Austrália, França, Canada, Irlanda, Holanda, Malásia, Singapura, Reino Unido, EUA etc) que já incluíram o tema educação financeira nas escolas e actualmente num cenário de crise financeira e necessidade de regulação do mercado financeiro, a discussão sobre educação financeira se reveste de extrema urgência sendo inclusive condição imprescindível para vencer o grande desafio que ameaça diversos países com níveis elevados de endividamento de famílias, empresas e governo. 

É neste sentido e acreditando na necessidade de maior regulação do mercado financeiro que o Presidente dos Estados Unidos, aprovou a criação da “Consumer Financial Protection Agency – CFPA” que vai garantir maior transparência, simplicidade, acessibilidade e evitar abusos e discriminação no mercado financeiro dos EUA.
Iniciativas como este são imprescindíveis para criar um ambiente de negócios propício ao desenvolvimento da economia.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Educação financeira em tempos de crise

Quem compra o que não precisa, um dia precisará vender o que precisa
Provérbio árabe
O uso inteligente do dinheiro é um desafio que a nossa sociedade tem pela frente principalmente neste contexto de crise financeira e necessidade de sobrevivência dos nossos empreendedores neste ambiente cada vez mais competitivo.

Aumentar a maturidade financeira da população, entendida como a capacidade de adiar os desejos de agora em função de futuros benefícios, disciplina e respeitar o tempo que as coisas precisam ter para realizar é um objectivo que todo governo deve traçar no âmbito da estratégia de desenvolvimento sustentável do país. Deve-se procurar meios (educação financeira) de possibilitar que as decisões de investimento sejam feitas de forma racional em vez de serem determinadas por factores emocionais tais como a vaidade, ostentação e impulso.

Ter dinheiro sem ter inteligência financeira é dinheiro que desaparece depressa. A maioria das pessoas não percebe que na vida o que importa não é quanto dinheiro você ganha, mas quanto dinheiro você consegue conservar. Na verdade, mais importante do que o tamanho do seu património é o fluxo de rendimento capaz de lhe garantir uma vida decente e tranquila. Ser independente financeiramente e ter equilíbrio e tranquilidade em relação ao dinheiro é algo que pode ser alcançado através de um programa de educação financeira que visa moldar comportamentos, hábitos e posturas em relação ao dinheiro.
Aumentar a inteligência financeira é uma condição necessária para o progresso de indivíduos, famílias, empresas e também do país.

Educação financeira é entendida como um conjunto amplo de orientações e esclarecimentos sobre posturas e atitudes adequadas no planeamento e uso dos recursos financeiros pessoais. Também, encontra-se associada á habilidade individual para tomar decisões apropriadas na gestão financeira. De acordo com vários investigadores sobre esse tema, a maioria das pessoas acompanha a multidão, fazem apenas o que todo mundo faz. Sem questionar, com medo de ser diferente, medo das criticas e medo do ridículo. O medo de ser diferente impede que muitas pessoas busquem novas formas de resolver seus problemas.

Neste contexto, sempre vale a pena lembrar e reforçar que a mudança para uma sociedade mais racional economicamente carece de maior comprometimento do estado neste processo adoptando políticas públicas que possam melhorar a inteligência financeira da população. Pela actual situação económica do País nota-se que politicas públicas direccionadas a melhorar a inteligência financeira são imprescindíveis para o nosso futuro.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Educação financeira como caminho para a prosperidade

A ideia de que a prosperidade começa com o controle do fluxo de caixa tem sido comprovada pela história de famílias, de empresas e até de governos. Cada dia que passa estamos sendo confrontados com a necessidade de conhecimentos mais apurados sobre temas ligados a finanças tais como orçamento, activo, passivo, fluxo de caixa, balança patrimonial, poupança, juros e investimento. Aumentar a literacia financeira é condição necessária para a sobrevivência de muitas famílias e empreendedores. O estado tem grande responsabilidade nesse processo pelo facto de que na nossa sociedade existe uma carência de oportunidades tanto formais como informais para aumentar a educação financeira da população.
A educação financeira basicamente tem como objectivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir.

O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para lidar com o “dinheiro”.
As opções das famílias na hora de fazer investimentos são determinantes na melhoria da qualidade de vida das mesmas no futuro. Da mesma forma, a prática de re-investimento é determinante na melhoria da competitividade e sobrevivência da empresa e, também, as opções de investimento do governo podem condicionar o desenvolvimento sustentável do país, ao desviar recursos escassos para empreendimentos que não estão relacionados a bens de capital que possam melhorar a competitividade do país ou gerar efeitos multiplicadores na economia.
A limitada racionalidade e pouca inteligência financeira tem padronizado o investimento das famílias á imitação das opções dos vizinhos, sem uma análise prévia e racional, gerando um circulo vicioso de ineficiências perpetuado por uma espécie de externalidade negativa que não condiz com os princípios de “liberdade de escolha” dos indivíduos. Muitas vezes é notório o equívoco cometido no investimento de famílias, empresas e inclusive governos, confundindo passivo com activo, isto é, fala-se frequentemente em fazer “investimento” na casa própria ou num automóvel e até infra-estruturas, sendo que na contabilidade patrimonial esses bens são considerados muitas vezes como passivos e nos deixam mais pobres porque aumentam as nossas despesas mensais (com prestações nos bancos, impostos, combustíveis, manutenção etc) sem uma correspondente contrapartida em receitas. Portanto, não tem nada de inteligente manter um activo que só provoca despesas no fluxo de caixa.

O aumento de casos de famílias em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com o rendimento familiar disponível devido á escolha errada das opções de investimento tem levado á semi-marginalidade de grande parte da classe média, com perdas na capacidade de consumo, perda de qualidade de vida, stress financeiro que traz problemas mentais, emocionais, perda de laços sociais entre outros problemas nos leva a insistir sobre a urgência de se aumentar a inteligência financeira da população tendo em vista o aumento do crédito fácil, maior disponibilidades e variedades de produtos financeiros (Ex: micro-crédito), pouco conhecimento da população sobre assuntos financeiros, má gestão de finanças pessoais e familiares, pressão financeira inesperada etc.
Não tenho dúvida de que melhorar a inteligência financeira é fundamental para o desenvolvimento económico do país. Neste sentido, é de todo interesse da nação o governo se preocupar com a educação financeira da população, encarando esta tarefa como condição essencial para alcançar maior prosperidade de famílias, empresas e do país e provavelmente um dos instrumentos mais eficazes no combate á pobreza e sustentabilidade do desenvolvimento País.