segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Palestra sobre Educação Financeira Corporativa

 Antonio Baptista

É triste perceber que grande maioria dos empreendedores não conseguem se prosperar nos negócios mas, mais triste ainda é a possibilidade de que o fracasso se deve á autosabotagem e que a morte de empresas em Cabo Verde acontece frequentemente por “suicídio”. Situação que pode ser evitada através da educação financeira corporativa que lhes ajuda a tomar “melhores” decisões com o dinheiro.

Embora se reconheça a importância da promoção do empreendedorismo no desenvolvimento de Cabo Verde, as estratégias tem-se centrado nos aspectos formais relacionados com abertura de empresas, capacitação técnica, plano de negócios, crédito etc, negligenciando questões mais importantes que se relacionam com os aspectos informais, tais como a cultura, valores, traços da personalidade dos empreendedores, racionalidade económica-financeira, responsabilidade fiscal e social dos empresários que condicionam o sucesso de qualquer empreendimento e limita de forma significativa o desenvolvimento económico do país.

Na quinta feira dia 20, a PROFIN foi convidada para ministrar uma palestra para mulheres vendedeiras em Ponta Belém na cidade da Praia, no âmbito da formação Get Ahead - "Um Passo Em Frente: Mulheres e Empreendedorismo" ministrada pela professora Silvia Spencer da UNICV/ENG, através de uma parceria entre o Centro de Emprego e Formação Profissional de Praia (CEFPP), Camara Municipal da Praia e o Programa Jov@emprego.

Nesta ocasião tivemos oportunidade para abordar vários aspectos da educação financeira corporativa mas hoje vamos destacar apenas dois dos temas (prometendo brevemente abordar os demais tópicos).

Os problemas na gestão do fluxo de caixa e o descontrolo financeiro são os principais determinantes do fechamento de empresas. Os problemas financeiros além de serem críticos por si mesmos, condicionam praticamente todo o funcionamento da empresa.

No caso especifico das empresas familiares, empresas informais, microempresas e até algumas pequenas empresas geridas pelo dono, a falta de definição do pro-labore e misturar contas pessoais com as do negócio são, sem dúvida, as principais causas de falência.

O pro-labore significa “pelo trabalho” em latim. É a remuneração (salario) do dono da empresa.

Também, confundir o “caixa da empresa” com o “bolso do dono” é um pecado mortal. Além de não permitir pleno conhecimento da situação financeira da empresa, trás sérias limitações na gestão do fluxo de caixa e na avaliação dos negócios. As retiradas de dinheiro feitas pelo dono não podem ser aleatórias, sob pena de trazer grande descontrolo na gestão financeira da empresa tanto no longo prazo como no curto prazo, com dificuldades em relação ao fundo de maneio.

Na nossa opinião o conselho mais relevante para estas microempreendedoras é a de separar as contas pessoais das contas do negocios e de estabelecer um “salario” para elas.


domingo, 23 de agosto de 2020

Conversa aberta na CERMI - Educação Financeira

 

Na Sexta feira passada, dia 14, a PROFIN foi convidada para participar na conversa aberta com os funcionários da CERMI (Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial). O tema da conversa foi Educação Financeira e abordou-se a importância de tomarmos mais cuidado com os nossos gastos. Muitas vezes os funcionários por terem um salario todo final do mês esquecem de aproveitar os seus “talentos” ou dos outros, para aumentarem as chances de ganhar mais dinheiro e aumentar o rendimento familiar. Temos de aproveitar as oportunidades que estão ao nosso alcance para aumentar o rendimento. A prosperidade financeira é mais influenciada pela forma como gastamos nosso dinheiro do que pelo tanto que ganhamos. Ter dinheiro sem ter inteligência financeira na forma como usar este dinheiro pode ter efeitos limitados na nossa prosperidade futura. Temos de aprender a gastar o nosso dinheiro com sabedoria. Entretanto, saber fazer escolhas não é facil e requer muita determinação e comprometimento com os nossos sonhos e objetivos. Saber diferenciar desejos de necessidades, ter capacidade de resistir ás “tentações“ de consumo e poupar algum dinheiro requer Educação Financeira. Outra competência importante abordada na conversa aberta foi saber diferenciar um ATIVO patrimonial de um PASSIVO patrimonial. Todo gasto que fazemos pode ser classificado como um ativo se coloca dinheiro no nosso bolso enquanto um passivo tira dinheiro do nosso bolso e, portanto, nos deixa mais pobre. Todo dia decidimos se seremos ricos ou pobres em função das nossas escolhas onde colocar nosso dinheiro. Quem acumula ativos, terá o “dinheiro a trabalhar para ele” enquanto quem tem passivo, terá que “trabalhar para ter dinheiro” e manter o passivo. Considerando a atual conjuntura de crise sanitária, outra competência imprescindível é sermos mais solidários e doar parte do nosso tempo, dinheiro e talento para ajudar a reconstruir a nossa sociedade fragilizada pelo Covid. A PROFIN agradece o convite e parabeniza a CERMI por esta agradável iniciativa.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

Oito dicas para educar com a semanada (8/8)

Antonio Baptista

A educação financeira visa moldar comportamentos, hábitos e posturas em relação ao dinheiro. É uma competência imprescindível para o sucesso na vida adulta. Tão importante como investir na sua capacidade de ganhar dinheiro é a necessidade de melhorar a sua capacidade para gerir os seus recursos e especialmente, aprender a gastar de forma racional e informada.

Geralmente a educação financeira é entendida como um conjunto amplo de orientações e esclarecimentos sobre posturas e atitudes adequadas no planeamento e uso dos recursos financeiros pessoais. Ela precisa ser desenvolvida e treinada desde pequeno e por este motivo a semanada é uma ferramenta importante para ajudar as crianças a lidarem com o dinheiro.

As crianças aprendem geralmente através de exemplos e os pais serão sempre as suas melhores referências. Considerando que o nivel de educação financeira no país é baixa e com poucas oportunidades formais e informais para se aprender a lidar com o dinheiro, fica evidente o grande desafio que é a educação financeira dos filhos no país, ainda mais, se muitos de nós nem sabemos que não temos boa educação financeira e, portanto, não temos uma postura exemplar em lidar com o dinheiro por forma a que os nossos filhos possam copiar/imitar. Portanto, a nossa dica é:

Dica 8 : Melhore sua educação financeira e seja um exemplo para o seu filho. Os pais são os exemplos e o modelo que a criança vai seguir, por isso, seja coerente! Explique à criança que o dinheiro é fruto do esforço do trabalho dos pais. Fale sobre o seu trabalho e de quanto ganha por hora (se não souber, faça a conta). Envolva a criança nas decisões financeiras sempre que for possivel. Aproveite estes momentos para mostrar para as crianças que educação financeira é escolha. Que a familia tem de consentir com sacrificios hoje para poder alcançar algo melhor no futuro (o dinheiro não é infinito, é escasso, requer muito sacrificio para se conseguir e as escolhas que fazemos determina a nossa futura situação financeira).

Temos a responsabilidade de investir na formação de nossos filhos para que estejam mais capacitados para tirar proveito das oportunidades que surgem nas suas vidas e ter independência financeira. Investir na educação financeira dos filhos, sem dúvida, é um dos maiores investimentos que os pais podem fazer para aumentar as chances de sucesso e resiliência na vida dos filhos.


sábado, 18 de julho de 2020

Oito dicas para educar com a semanada (7/8)


Antonio Baptista
A semanada permite desenvolver nas crianças a mentalidade saudável em relação ao dinheiro quando for corretamente implementada. Éla refere a um montante de dinheiro que as crianças recebem por semana para satisfazer “desejos”. Saber controlar os seus desejos será uma competência importante para ter sucesso na vida. A capacidade da criança controlar seus impulsos para satisfazer desejos é desenvolvida desde cedo entretanto, qualquer mudança comportamental requer muita dedicação e comprometimento dos pais. Em relação á educação financeira não é diferente. Requer que os pais sejam persistentes e comprometidos em desenvolver o comportamento saudável e responsável com o dinheiro nas crianças.

Desde cedo a criança deve ser incentivada a perceber que o dinheiro é uma ferramenta que serve para realizar os sonhos, dentro da realidade de cada pessoa.
Ela precisa ter contato com o dinheiro, fazer escolhas com autonomia, errar, assumir responsabilidade e aprender. Para tanto não é de muita utilidade fazer poupança para os filhos apenas nos bancos comerciais pois, do que adianta para o aprendizado ter um dinheiro que a criança não consegue manusear e gastar? Pois, a criança precisa aprender a gerir/gastar e, quanto mais cedo, melhor. Esse é um dos maiores desafios na educação financeira. A nossa sociedade ja esta formatada para nos ensinar a ganhar dinheiro mas para gastar, além de não termos consciência de que muitos de nós não sabe gastar/gerir, existem poucas oportunidades para se aprender a fazer escolhas e gastar com sabedoria. É preferível que a criança cometa os erros nas suas decisões financeiras enquanto criança do que na fase adulta.

Dica 7: Estabeleça diferentes horizontes temporais para a poupança. Curto, médio e longo prazo. Para o aprendizado é importante permitir que a criança manuseie o dinheiro. O cofrinho, que é um instrumento ideial para ensinar a poupar, deve ser acessível para servir como caixa e poupança de curto prazo (ex: periodo de uma ou duas semanas). Para objetivos de médio prazo (ex: 1 a 2 meses) a criança deve adotar um cofrinho separado. Para objetivos de longo prazo, perceptível apenas para os adultos, pode-se recorrer a poupança automática, que é depositada em uma conta a prazo nos bancos comerciais. Lembre que este dinheiro não vai servir para a educação financeira e comportamental porque a criança so terá acesso a ele depois de alguns anos. As crianças são naturalmente ansiosas. A poupança de longo prazo, nos bancos, para o seu futuro...não faz muito sentido. Elas precisam manusear o dinheiro, fazer o balanço no cofrinho etc.

Além de poupar é necessário que aprenda a gastar. No inicio ela vai cometer erros mas...será um aprendizado importante para a vida adulta. Esse aprendizado só acontece se os pais seguirem as regras da semanada que temos discutido nos posts anteriores (regularidade, valor fixo, autonomia das crianças, previsibilidade etc).

terça-feira, 14 de julho de 2020

Oito dicas para educar com a semanada (6/8)


Antonio Baptista
Em muitos países não existem oportunidades formais para se aprender a lidar com o dinheiro. A responsabilidade de ensinar educação financeira recai sob a família (que por vezes nem têm ideia por onde começar e como implementar a educação dos filhos). A semanada é o principal instrumento para se ensinar as crianças a tomarem decisões informadas com o dinheiro e aumentar as chances de sucesso na vida adulta porém, existem regras a serem seguidas para que possa surtir efeito. O assunto “Educação Financeira” ainda é desconhecido entre nós e carece de muito material de apoio e consensos sobre o que deve ser ensinado e como ensinar entretanto, algumas regras práticas devem ser consideradas para termos sucesso.  A regularidade, o montante fixo, a autonomia das crinças nas decisões de gastos e o uso (para satisfazer desejos) foram algumas das dicas sobre a semanada que tinhamos abordado nos posts anteriores.

A semanada deve fazer parte de um projeto mais amplo que é desenvolver a educação financeira nas crianças. Ela não pode estar isolada do contexto global em que a criança deva ter noção de que além de poupar, deve-se saber ganhar, gerir, gastar e doar. Neste contexto a dica é:

Dica 6 - Torne o hábito da poupança em um “jogo familiar”; estabeleça metas de consumo de energia, água, comida etc., e comprometa toda a família nestes projetos/jogos. É importantíssimo que a familia comemora as conquistas de redução de gastos alcançados. Para tanto, deve-se estabelecer metas (que serão divulgadas, medidas e que são alcançaveis no curto, médio e longo prazos) e atribuir tarrefas e atividades para todos os membros da família. A família deve-se reunir regularmente para analisar/avaliar os resultados alcançados e corrigir estratégias, se necessário.

Sempre que possível a criança deve ser envolvida nas decisões financeiras. Ela deve ser estimulada a participar na elaboração do orçamento familiar, ajudar nas compras, fazer lista de supermercado e colaborar na redução do desperdicio de comida, electricidade, agua, material escolar etc etc. Por exemplo, a família pode estabelecer como objectivo: reduzir a conta da electricidade, agua, internet etc e o valor poupado pode ser usado para (uma parte para as crianças, como incentivo) fazer algo divertido (ex: convivio familiar). Estes “jogos” familiares podem ser muito atraentes para as crianças e é uma forma de participarem na redução do desperdicio, construção da poupança da familia e ainda por cima, podem aumentar o seu beneficio financeiro. Tornando estas atividades um hábito/jogo familiar, pode-se ter uma excelente oportunidade para as crianças ganharem competências em todas as dimensões da educação financeira (ganhar – ela vai entender que o trabalho é que garante o dinheiro da familia; gerir – vai aprender a fazer escolhas e reduzir desperdicios; poupar – vai aprender que através da poupança pode-se realizar sonhos e ter beneficios; investir - vai aprender a diferenciar o que é necessário e o que é desejo e, fazer escolhas inteligentes. Também pode aprender a doar parte do que tem, sentir que faz parte de um “time” e que só tem ganho, se todos ganharem e, que todos tem papel importante a desempenhar etc.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Oito dicas para educar com a semanada (5/8)

Antonio Baptista
A semanada é um ato de amor! Ela têm regras e exige paciência. A Educação Financeira é um compromisso de longo prazo com as crianças e deve ser incentivada desde cedo. A implementação da semanada é um instrumento importante para ensinar a criança a evitar o desperdício de dinheiro, tempo, comida, material escolar, água, talento etc. É a melhor estratégia para a educação financeira da criança e ajuda a desenvolver competências para que ela possa aproveitar as oportunidades que vão surgir e aumentar as suas chances de sucesso na vida. Uma competência importante para o sucesso é ter paciência e esperar o tempo que as coisas precisam para se realizar.
Pode-se utilizar a semanada como forma de ensinar as crianças a ter paciência e esperar o tempo necessário para realizar sonhos. É muito importante que as crianças tenham tempo para “imaginar” a realização do sonho, fazer planos, visualizar o futuro etc. Provavelmente as suas realizações serão mais gratificantes. Uma criança que consegue realizar sonhos com base no seu esforço de poupança, com certeza, vai valorizar muito mais as suas conquistas e realizações.
Neste contexto, como proceder com a semanada por forma a incentivar a paciência nas crianças??
Além de realizar os desejos de curto prazo, o valor da semanada/mesada deve permitir que a criança conserve parte do dinheiro para objetivos de medio e longo prazo (ex: longo prazo sera o tempo necessário para a criança comprar algo que seja 10 vezes o valor da semanada). Se a criança pretender comprar algo mais caro, ela deve entender que é necessário economizar parte da semanada e esperar pacientemente para ter dinheiro suficiente para atingir suas metas.
Nestes casos ,deve-se incentivar a criança a estabelecer objetivos de médio e de longo prazo a serem alcançados mediante poupança. Então a nossa dica de hoje é:

Dica 5 - Paciência – A criança deve aprender a esperar para a realização de um desejo. Estimule a poupança para objetivos de curto, médio e longo prazo. É importante “premiar” a criança em função dos esforços de poupança e metas alcançadas pois, todo sacrificio deve ser seguido de algum beneficio e as crianças não conseguem esperar tanto tempo para verem os resultados da poupança.  Ex: se a criança conseguir poupar 2/3 do valor, pode-se dar um prémio (1/3) do valor pretendido.
Considerando que as pessoas geralmente são mais sensíveis ás perdas do que aos ganhos, pode-se adotar algum tipo de penalização na entrega do “prémio” que referimos acima. Como não se pode alterar o valor da semanada (deve ser fixa e entregue na mesma data), pode-se então atrelar o “prémio” a regras de obediência e tarefas da casa. Caso a criança não cumprir determinados acordos assumidos (Ex: deixar a TV ligada, etc) implica descontos no prémio. É bom lembrar que o prémio deve ser previamente depositada no cofre da criança para que tenha sensação da “perda” e entender que o dinheiro só é recebido a partir de uma rotina de compromissos.

Tudo tem o seu tempo determinado. Há um tempo para todo o propósito debaixo do céu!” Eclesiastes

terça-feira, 7 de julho de 2020

Oito dicas para educar com a semanada (4/8)


Antonio Baptista
Semanada/mesada é um montante de dinheiro que as crianças recebem por semana/mês para satisfazer DESEJOS. É a ferramenta mais importante para ensinar as crianças a manusearem o dinheiro e desenvolverem a inteligência financeira que, sem dúvida, será uma competência imprescindível para o sucesso na vida adulta.
Implementar a semanada não é um processo facil. Pior do que não dar semanada é dar de forma incorreta pois, a semanada deve ser um instrumento para a construção de valores, crenças, habitos e comportamentos saudáveis em relação ao dinheiro, para que possam desenvolver um modelo/mentalidade adequada sobre o dinheiro.
Todo hábito saudável, para ser sustentável deve ser acompanhado de alguma forma de gratificação. Com a semanada a criança sente o gosto de poder decidir, satisfazer desejos, participar e colaborar efectivamente no alcance das metas financeiras da familia. Essa sensação pode desenvolver o sentimento de autoestima e gratificação, que será de grande valia na vida.
Dica 4 - AutoestimaA criança é que deve decidir quando e quanto gastar. Evite interferências de outros familiares. Não dê prémios monetários pelas boas notas ou trabalhos em casa, porque estudar e ajudar em casa são obrigações sociais/familiares. Entretanto, sempre que possivel, pode-se remunerar a criança por algum trabalho extra que possa realizar como forma de associarem, desde cedo, a remuneração com o trabalho. Pois só o trabalho pode gerar valor e é realmente gratificante poder realizar sonhos pelo nosso próprio esforço e mérito.
Inclua seus filhos nas pequenas decisões financeiras. Envolva-os na elaboração da lista do supermercado e na arrumação dos produtos quando chegar em casa. Se possível atribua uma responsabilidade para eles (quando tiver idade para tal) para a compra de determinados itens para a casa, em que terão que pesquisar preços e maximizar resultados com base em determinado orçamento que ele terá para gerir.
Muitos problemas financeiros derivam de problemas associados á baixa autoestima e busca pela gratificação imediata através da compra compulsiva. Portanto, utilizar a semanada como forma de aumentar a autoestima da criança será uma estratégia prudente e recomendável.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Oito dicas para educar com a semanada (3/8)


Antonio Baptista
A grande maioria dos Caboverdeanos nunca teve oportunidade de aprender formalmente a manusear o dinheiro de forma prudente e racional. Geralmente o assunto dinheiro não é conversado na mesa das famílias; grande maioria das crianças e jovens não sabem qual o orçamento familiar e nem participam nas atividades de planeamento e decisões financeiras da família. Muitas famílias acreditam que não se deve dar dinheiro para as crianças. Ninguém gosta de falar sobre o seu salário/rendimento enfim, um ambiente difícil para se aprender a lidar com o dinheiro de forma prudente e inteligente. As crianças Caboverdeanas quando chegam na fase da vida adulta demonstram ser imaturas e imprudentes com os seus gastos (“malcriados” com o dinheiro). Estudo do Banco de Cabo Verde de 2015, sobre a literacia financeira em Cabo Verde alerta que, no geral, o cabo-verdiano tem conhecimento financeiro insuficiente para a tomada de decisão duma forma consciente. Não fazem poupança e tem conhecimento insuficiente sobre a literacia financeira. Temos obrigação de mudar esta realidade e essa mudança deve ser começada em casa porque ninguém mais do que os próprios páis, tem interesse no sucesso dos filhos. A semanada é um instrumento para a educação financeira dos filhos. É um valor monetário que os páis dão ás crianças de forma regular e fixa em termos de valor e periodicidade.
No post anterior falamos sobre a importância da auto-responsabilidade, sobre termos a consciência da nossa realidade financeira e das suas causas endógenas. Ao reconhecermos como sujeitos que têm poder para moldar e determinar uma nova realidade nas nossas vidas precisamos de Autonomia pois, não podemos ficar parados e esperar acontecer. Autonomia é tomar a vida nas próprias mãos, com muita responsabilidade e disciplina para fazer o que necessita ser feito. A pergunta é: Como a semanada pode promover a Autonomia nas crianças para terem consciência das escolhas e das consequências  das suas decisões/escolhas?
Dica 3: Autonomia – Não dê palpites. A criança é que deve decidir quando e quanto gastar. É um valor destinado para satisfazer desejos a critério da criança. É importante deixar que ela cometa erros e assuma que a situação financeira foi determinada pelas suas decisões/escolhas. Se os pais interferirem, ela vai usar essa brecha como justificativa pelo seu fracasso e não vai assumir responsabilidade.
É preferivel que ela cometa erros nas suas decisões enquanto criança do que cometê-las na idade adulta. Quanto mais cedo a criança perceber que ELA decide a sua situação financeira, provavelmente ela não vai ficar a tentar encontrar justificativas para atribuir a culpa a terceiros quando for adulto.
Para aprender a lidar com o dinheiro ela deve começar a manusea-lo desde pequena. Muitos atos de “furto” de moedas em casa pode ser reduzida assim que atribuirmos a semanada. As crianças tem desejos e elas não “têm” consciência moral sobre a consequência dos seus atos na sua busca de satisfazer os seus desejos. Portanto, dar semanada é uma forma de investirmos na autoestima da criança. Este será o tópico do nosso próximo post.
“Na mudança do presente a gente molda o futuro!” Gabriel Pensador


sexta-feira, 19 de junho de 2020

Oito dicas para educar com a semanada (2/8)


Antonio Baptista
A mesada/semanada é o principal instrumento para ajudar as crianças a desenvolverem uma mentalidade saudável em relação ao dinheiro. Éla refere a um montante de dinheiro que as crianças recebem por mês/semana para satisfazer “desejos”. Para terem sucesso na vida as pessoas precisam desenvolver um conjunto de competências que lhes permitem aproveitar as oportunidades que surgem e aumentarem as suas chances de ter uma vida próspera. Uma característica presente nos individuos que tiveram uma vida bem sucedida tem a ver com assumpção da responsabilidade pela vida que tem levado. Certos de que a sua situação financeira é fruto das suas decisões conscientes ou não, ao longo do tempo pois, a vida é feita de escolhas e, quanto melhor capacitados, maiores as chances de evitarem “decisões pobres” em termos do uso do dinheiro.
De acordo com os psicólogos, á medida em que crescemos, passamos por um processo natural de maturidade que nos faz perceber o peso das responsabilidades. Autoresponsabilidade é a capacidade ou competência de assumir a responsabilidade por cada evento bom ou ruim que acontece nas nossas vidas. Entretanto, muitas pessoas costumam fugir de suas atribuições e consequências das suas atitudes, tentando sempre atribuir a culpa a terceiros. Ter Autorresponsabilidade é atribuir unicamente para nós mesmos a responsabilidade sobre aquilo que acontece na nossa vida, seja positivo ou negativo. Se a criança perceber que ela é a unica responsável pela sua situação financeira (por ter gastado toda a semanada), ela pode mudar as suas ações e conseguir um resultado melhor.
A capacidade de assumir a responsabilidade pela sua situação financeira é uma condição necessária para a mudança comportamental e alcançar o sucesso. Temos consciência de que mudar um determinado padrão comportamental não é tarrefa facil e quanto mais cedo as crianças forem incentivadas a assumirem a responsabilidade, estaremos a criar as condições essenciais para que tenham educação financeira. Portanto a nossa segunda dica:

Dica 2. Autoresponsabilidade – Se a semanada terminar antes do prazo, NÃO dê mais dinheiro até á data combinada da próxima semanada. Seja firme porque logo no inicio é frequente a criança gastar toda a semanada e vier logo a pedir mais (é bom gastar dinheiro dos outros!). Também evite dar palpites sobre como ela deve usar a semanada. A decisão deve ser dela e por este motivo fica mais fácil ela perceber que foi ela mesma quem gastou toda a semanada e com isso pode-se despertar o senso de responsabilidade. O uso do dinheiro requer muita responsabilidade e a criança deve perceber que existe LIMITE em satisfazer os desejos (recursos são escassos e existem escolhas – dois principios elementares da economia) e arcar com as consequências das suas escolhas.

Oito dicas para educar com a semanada (1/8)


Antonio Baptista
Já ouviu falar da mesada/semanada? É um montante de dinheiro que as crianças recebem por mês/semana para satisfazer desejos. Que fique claro que é para satisfazer DESEJOS porque as necessidades devem ser da responsabilidade dos pais. O grande desafio que a criança terá na vida adulta será controlar os impulsos em satisfazer os seus “desejos” pois, desejos são ilimitados e sempre insatisfeitos. A maior parte dos problemas financeiros na vida adulta estão associados á busca irresponsável em satisfazer desejos, sem olhar os meios.

A semanada que é ideal para crianças com até 10 anos (fala-se mesada também mas é mais adequada que seja quinzenal), tem regras e exige comprometimento, perseverança e paciência. É um instrumento importante para ensinar a criança a evitar o desperdício de dinheiro, tempo, comida, material escolar, água, talento etc e é, sem dúvida, a melhor estratégia para melhorar a educação financeira da criança e melhorar a inteligência financeira na vida adulta. Quando usada corretamente, a semanada ajuda a criança a desenvolver competências para que possa aproveitar as oportunidades que vão surgir e aumentar as suas chances de sucesso na vida.

A nossa primeira dica é:

Dica 1. Previsibilidade. A data e o montante da semanada deve ser acordada previamente e respeitada com rigor. Portanto, não se comprometa, se não puder cumprir. A semanada não é um prémio, mas sim um instrumento de educação financeira. Não pode estar associada a desempenho escolar e nem aos afazeres domésticos (que é um dever de todos) e, nem pode ser usada também como chantagem ou castigo, porque é incondicional.

A previsibilidade depende da mesada/semanada ter um valor fixo e regular. A regularidade da mesada/semanada vai ajudar a criança a desenvolver uma mentalidade adequada para o planeamento. Ela vai aprender a esperar para realizar os seus sonhos.

Educação financeira esta associada á paciência. Esperar o tempo que as coisas precisam para acontecerem.

Pior do que não dar mesada/semanada é dar de forma errada. O erro esta associado ao facto de o montante, geralmente, ser variável e esporádico, dificultando o planeamento, que é um aspecto importantissimo no processo comportamental e, imprescindível na vida adulta. Portanto, dê um montante FIXO e numa data FIXA!

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Que futuro financeiro para as nossas crianças?


Antonio Baptista
A Africa é um continente com grande potencial porém, a grande maioria dos países deste continente são pobres e a sua população vive com grandes privações. A simples observação sobre a qualidade de vida da população dos paises da Europa nos deixa indignados com tamanha desigualdade em termos do bem-estar das familias entre os dois continentes. Não obstante as várias teorias sobre o porquê da riqueza das Nações, a diferença entre a qualidade de vida e a prosperidade entre os países existe consenso de que o crescimento económico depende do processo de acumulação de capital e este, por sua vez, depende das escolhas na afectação dos recursos por parte da população.  Portanto, a nossa prosperidade depende das nossas escolhas conscientes ou inconscientes sobre onde alocar os nossos recursos. Esta constatação vale tanto para o indivíduo, famílias, empresas e/ou países como um todo.

É neste contexto que escolhemos o dia 16 de Junho, dia internacional da criança Africana, para partilhar um pouco do conhecimento sobre a Educação Financeira, que, sem dúvida, é um instrumento imprescindível para mudarmos o destino sombrio que espera a grande maioria das crianças na Africa.
A nossa colaboração especial em honra á comemoração desta data se resume em um conjunto de posts (8 dicas) sobre o tema “Mesada/Semanada” que tem como objetivo ajudar as famílias a orientarem as crianças por forma a tomarem decisões financeiras mais conscientes e saudáveis e, que não comprometam o seu futuro devido a más decisões. Parte-se do pressuposto de que as pessoas com maiores conhecimentos e habilidades em lidar com os recursos financeiros terão condições efetivas de contribuir para o bem-estar da sua família, o progresso e, a desejada felicidade da Nação que o nosso governo tanto almeja.
Pretendemos contribuir com estas 8 dicas para a formação de uma nova geração de africanos mais conscientes de suas possibilidades e mais capacitadas para tirarem proveito das potencialidades do seu país, das oportunidades que surgem nas suas vidas e para prosperarem através de uma melhor administração dos seus parcos recursos financeiros de maneira consciente e que assumam a responsabilidade pelos fracassos e tenham autonomia para recomeçarem e persistirem na busca pelo sucesso.
Muitas pessoas, por ignorância, não buscam informações sobre como melhorar a sua vida financeira. Existe uma limitada cultura de poupança (para investimento) no continente e mesmo nas escolas, pouco ou nada é ensinado sobre as finanças; demonstramos ser impacientes e imprudentes no uso do dinheiro e os nossos gastos são determinados por fatores tais como a vaidade, a ostentação, o desejo e o impulso; As famílias, quase não falam de dinheiro e nem chegam a elaborar um orçamento familiar.
A educação financeira geralmente é ensinada em casa, pela família. Mas na maioria dos países africanos nem na escola e nem na família se ensina educação financeira pelo que se torna necessário o surgimento de iniciativas para promoção da educação financeira desde a tenra idade.
Pode-se perceber que com este cenário as chances de sucesso das nossas crianças são limitadas e, por isso, o uso inteligente do dinheiro faz parte das condições necessárias para evitarmos as decisões “pobres” e alcançarmos o sucesso.

O que é Educação Financeira?
A educação financeira basicamente tem como objetivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro evitando atitudes precipitadas ou emocionais por instinto e/ou imitação na hora de investir de modo a evitar a ruína da família, sob o aspeto econômico, social e moral. Permite melhorar as habilidades individuais para tomar decisões apropriadas na gestão das suas próprias finanças.
A nossa personalidade financeira é moldada na infância e por este motivo devemos dar grande importância sobre a Educação Financeira no processo de aprendizagem das nossas crianças.
Pois a mesada/semanada é o instrumento ideal para moldarmos o comportamento mais adequado á prosperidade de indivíduos, famílias, empresas, países e, de todo o continente.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Educação financeira e desenvolvimento económico



“Nada estabelece limites tão rígidos á liberdade quanto a falta de dinheiro”
John Kenneth Galbraith

Actualmente o empreendedorismo tem sido um tema constantemente debatido em vários encontros, palestras e seminários e, já consta em várias propostas de políticas económicas para promover o desenvolvimento económico. Em Cabo Verde, dentro da estratégia do governo de reforçar o sector privado como motor do desenvolvimento esse tema tem merecido grande destaque.

Embora se reconheça a importância da promoção do empreendedorismo no desenvolvimento de países, as estratégias tem-se centrado apenas nos aspectos formais relacionados com abertura de empresas, capacitação técnica, crédito, plano de negócios etc, negligenciando questões mais importantes que se relacionam com os aspectos informais, tais como a cultura, valores, traços da personalidade dos empreendedores, racionalidade económica e financeira etc que, em última instancia, condicionam o sucesso de qualquer empreendimento e limita de forma significativa o desenvolvimento económico do país.

Um dos aspectos informais que condiciona de forma evidente a sobrevivência e o sucesso do empreendedor é a inteligência financeira, algo que não é ensinado no sistema formal de ensino e que a sociedade, de certa forma, tem dado pouca atenção. O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para tratar o “dinheiro” com inteligência e estratégia no sentido de tirar melhor proveito do seu bom manuseio. Ainda, o hábito da poupança ainda não faz parte da nossa cultura; demonstramos ser impacientes e imprudentes no uso do dinheiro e os nossos gastos são determinados factores tais como a vaidade, a ostentação, o desejo e o impulso, limitando consideravelmente o desenvolvimento do País.

A educação financeira segundo a OCDE, é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que com informação, formação e orientação claras possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda, adoptar outras acções que melhorem o seu bem-estar e, assim, tenham a possibilidade de contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.

A limitada inteligência financeira dos agentes económicos tem sido um entrave significativo no processo de desenvolvimento do país e frequentemente pode ser observado pela predominância dos aspectos emocionais na escolha entre as alternativas de investimentos; concentração dos investimentos das famílias em bens de consumo duráveis tais como imóveis e automóveis, geralmente importados e financiados com recursos de terceiros (que aumenta o endividamento das famílias e o deficit na Balança Comercial).

Neste contexto, na ausência da literacia financeira, nota-se uma padronização do investimento das famílias á imitação das opções dos vizinhos, sem uma análise prévia e racional, gerando um círculo vicioso de ineficiências perpetuado por uma espécie de externalidade negativa que não condiz com os princípios de “liberdade de escolha” dos indivíduos. Muitas vezes é notório o equívoco cometido no investimento de famílias, empresas e inclusive governos, confundindo passivo com activo isto é, fala-se frequentemente em fazer “investimento” na casa própria ou num automóvel e até infra-estruturas, sendo que na contabilidade patrimonial esses bens são considerados muitas vezes como passivos e nos deixam mais pobres porque aumentam as nossas despesas mensais (com prestações nos bancos, impostos, juros, combustíveis, seguros, reposição de peças, manutenção etc) sem uma correspondente contrapartida em receitas. Portanto, não tem nada de inteligente manter um “activo” que só provoca despesas no fluxo de caixa.

Frequentemente as escolhas das famílias são guiadas por objectivos nobres tais como garantir a segurança familiar, provisão sobre as incertezas do futuro porém, do ponto de vista financeiro são péssimas escolhas porque a família necessita de um fluxo de rendimento constante para ficar segura isto é, a entrada liquida de dinheiro ao longo do mês é que determina a qualidade de vida e bem-estar das famílias e empresas. Como se diz, e é consenso, não importa o quanto de dinheiro ganhou na vida mas sim, o quanto de dinheiro que conseguiu conservar que vai determinar o seu futuro.

O aumento de casos de famílias em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com o rendimento familiar disponível devido á escolha errada das opções de investimento tem levado á semi-marginalidade de grande parte da classe média, com perdas na capacidade de consumo, perda de qualidade de vida, stress financeiro que traz problemas mentais, emocionais, perda de laços sociais entre outros problemas nos leva a insistir sobre a urgência de se aumentar a inteligência financeira da população. Além de uma condição essencial para alcançar maior prosperidade de famílias, empresas e do país, provavelmente, é também um dos instrumentos mais eficazes no combate á pobreza.

Esse tema sempre foi uma preocupação de vários países (Austrália, França, Canada, Irlanda, Holanda, Malásia, Cingapura, Brasil, Reino Unido, EUA etc) que já incluíram o tema educação financeira nas escolas. Actualmente num cenário de agravamento do endividamento de famílias, empresas e governo em Cabo Verde parece ser inadiável e imprescindível a implementação de um Programa Nacional para a Educação Financeira.

Embora não seja evidente para muitos indivíduos que nós gastamos muito mal o nosso dinheiro, a realidade é que grande maioria do património familiar são classificados como passivos, que na verdade nos deixam com menos liquidez para enfrentar os desafios de curto prazo e ter qualidade de vida.

Tendo em conta que a escolha das opções de afectação dos recursos é moldada pela estrutura dos incentivos que existe na sociedade é urgente analisar uma engenharia de incentivos mais eficiente que possa moldar o comportamento racional dos agentes económicos e permitir maior inteligência financeira.

A efectiva tributação do património é o instrumento que tem a função de moldar o comportamento e a racionalidade das famílias e é, sem dúvida, o mecanismo mais eficiente e sustentável para aumentar a educação financeira e garantir o desenvolvimento do País.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Educação financeira para os empreendedores da economia solidaria


A economia solidaria parece ser uma opção factível para o governo promover o desenvolvimento e permitir maior inclusão socioprodutiva de grande parcela da população. Grande parte dos aspetos formais para o sucesso dos empreendimentos de economia solidaria já estão criadas porém, um dos maiores desafios para o desenvolvimento desta modalidade de organização do sistema económico encontra-se nos aspetos informais tais como a pouca inteligência financeira e pouca inteligência social, que está relacionada com os aspetos de solidariedade, organização social, redes sociais, confiança mútua, entre ajuda, reciprocidade, compromisso cívico entre outros, cujo deficit tem condicionado o sucesso de varias instituições fundamentais (ex: famílias, cooperativas, associações etc).

Um dos aspetos informais que condiciona de forma evidente a sobrevivência e o sucesso é a inteligência financeira dos empreendedores na área da economia solidaria, algo que não é ensinado no sistema formal de ensino e que a sociedade de certa forma tem dado pouca atenção. O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para tratar o “dinheiro” com inteligência e estratégia para tirar proveito do seu bom manuseio. Portanto, a pouca educação financeira tem condicionado o sucesso de muitos empreendimentos especialmente nos negócios inseridos na economia solidária (onde muitos empreendedores, ingenuamente, não são exigentes consigo mesmo sobre a melhoria da sua capacitação em lidar com o dinheiro e estratégia organizacional etc).

A educação financeira basicamente tem como objetivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir. Muitos empreendimentos não conseguem sustentar o sucesso devido á pouca inteligência financeira dos seus promotores. Isto é, vários empreendedores, com pouca educação financeira, não conseguem fazer uma boa gestão do fluxo de caixa e por vezes encontram-se em situações em que não conseguem pagar suas contas e honrar compromissos. Geralmente, a pouca educação financeira não permite que o empreendedor perceba a importância da poupança e do reinvestimento para a sustentabilidade dos negócios e, frequentemente eles não conseguem implementar nem o fundo de maneio, correndo risco de falência.

Muitas vezes a promoção da economia solidaria vem associada a estruturas de microfinanças para apoiar os investimentos. A facilidade no acesso ao crédito não pode ser confundido com relaxamento em termos de compromissos com a gestão criteriosa do dinheiro. É imprescindível que as entidades de financiamento adotem serviços de assistência técnica para promover a educação financeira.
É imprescindível melhorar a compreensão dos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com mais informações, formação e orientação pode-se conhecer melhor as oportunidades e riscos e, poder fazer melhores escolhas e desta forma aumentar as chances de sucesso dos negócios da economia solidaria.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Educação financeira e a estabilidade do sistema financeiro


Os dados publicados pelo BCV, no seu relatório semestral sobre a estabilidade financeira confirmam o que há muito já era evidente. Grande parte das famílias Caboverdianas “investem” em passivos patrimoniais, o que lhes deixam mais pobres. Infelizmente esse assunto não é facilmente percebido e é geralmente agravado pelo facto de que a sociedade/famílias ao perseguirem o sonho de ter casa própria, decidem mais com base na emoção do que com base na “razão”.

A grande maioria das famílias decidem financiar a casa própria sem ter feito previamente uma poupança, sem fazer o planeamento financeiro familiar e sem se aperceberem das consequências futuras das suas decisões na compra da casa do sonho. Muitas vezes influenciadas pelo marketing bem elaborado das imobiliárias, facilidade do governo com bonificações, assédio dos bancos e, pressionadas pela sociedade de consumo acabam por optar pela compra de um imóvel, muitas vezes acima da real capacidade financeira da família.

Frequentemente, a decisão de comprar uma casa esta associada a motivos nobres tais como garantir algum património para o filho. Este é um dos erros mais frequentes entre as nossas famílias que culturalmente tendem a deixar a casa para os filhos como herança. Embora a nossa história tem demonstrado que a melhor herança que os pais podem deixar aos filhos é a educação e também, garantir aos filhos uma infância e adolescência sem muitas carências para que cresçam saudáveis, sem traumas emocionais, frustrações etc muitas famílias ainda comprometem o futuro dos filhos através de compromissos financeiros de longo prazo. Neste contexto, a decisão da família em comprar a casa própria deve ser precedida de muita ponderação principalmente, se a segurança futura do filho é o motivo para este “investimento”.

Grande parte da população não consegue perceber os detalhes e as consequências das suas opções em relação ao dinheiro. Esquecem que o preço que tem de pagar pela pressa em ter casa e carro são os juros e as carências que os filhos terão de passar ao longo de vários anos em troca da ostentação da casa comprada, muitas vezes, para satisfazer um desejo ou vaidade. Esquecem o fato de que para garantir uma vida tranquila para os filhos deveriam deixar como herança uma poupança ou um património que é um ATIVO que lhe dá rendimentos (como empresas, acções, aplicações financeiras etc) ao invés de um património que é um PASSIVO (como casa, carro etc) que lhe deixa mais pobre.

O nível de endividamento das famílias é uma das maiores ameaças para se garantir a estabilidade financeira no País sendo portanto necessário investir fortemente na educação financeira, como forma de permitir que as famílias tomem melhores decisões na alocação dos escassos recursos.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Educação financeira e regulação económica



“O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”
Bíblia Sagrada (Timóteo 6:10)

Toda a moderna teoria económica está assente na capacidade de auto-regulação, perfeição do sistema de mercado e no princípio da racionalidade dos agentes económicos. Não precisamos fazer muito esforço para deixar evidente o facto de que existem falhas no sistema de mercado e muitas pessoas apresentam limitada racionalidade. O aspecto preocupante é que essa situação é mais regra do que excepção.

Todos os indivíduos são susceptíveis a influências do ambiente que nos rodeia (efeitos do contexto), a emoções irrelevantes, à imprevidência e a outras formas de irracionalidade que condicionam a sua capacidade de tomar decisões correctas em termos da utilização dos escassos recursos.

A existência de falhas de mercado relacionadas com a racionalidade limitada dos agentes económicos, informação incompleta, externalidades, assimetria de informação entre outras, tem justificado a necessidade de regulação económica como forma de alcançar maior eficiência nos mercados.


A racionalidade limitada, a informação imperfeita, influência das técnicas de vendas modernas, marketing e facilidades de crédito pode levar a decisões pouco racionais ou ineficientes na afectação de recursos, gerando externalidades negativas e ineficiências no mercado. Frequentemente, os consumidores ditos “livres” e soberanos mas, ignorantes em termos financeiro - devido á racionalidade limitada e informação incompleta - são levados a um nível de endividamento insustentável. Esta situação requer maior regulação no mercado de crédito no sentido de proteger a economia e permitir maior eficiência na utilização dos recursos e evitar a situação de imparidades/inadimplência que cada ano tem aumentado no País.

A pouca inteligência financeira e a limitada racionalidade tem padronizado o investimento das famílias á imitação das opções dos vizinhos, sem uma análise financeira intertemporal prévia. Essa situação é nitidamente uma situação característica da “falha de mercado”, no sentido de que as opções individuais estão de certa forma condicionadas pela escolha dos vizinhos. É uma espécie de externalidade que pode ser negativa, caso a escolha de investimento - ao seguir a maioria - lhe deixar mais pobre.

Infelizmente, muitas pessoas fazem escolhas pobres na selecção dos investimentos, dificultando o alcance de um melhor desempenho da economia. Esta situação não é desejável porque se trata nitidamente de uma situação sub-ótima e requer mecanismos e incentivos para levar a economia a uma situação de melhor ambiente de negócios no mercado.

A crise financeira de 2008 alertou para a necessidade de maior regulação nos mercados financeiros e da disponibilidade de maiores informações para dar suporte às decisões dos agentes económicos.

A habilidade financeira, nos dias de hoje, é uma competência que precisa ser melhorada para que os cidadãos comuns tomem melhores decisões. Portanto, a educação financeira da população é um dos melhores instrumentos para a regulação económica ao mesmo tempo que a regulação do mercado de crédito ajuda na melhoria da educação financeira.


quinta-feira, 7 de maio de 2020

Educação financeira na empresa



Quem compra o que não precisa, um dia precisará vender o que precisa
Provérbio árabe


A educação financeira basicamente tem como objetivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir.

O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para lidar com o “dinheiro” e frequentemente levam esta “imaturidade financeira” para dentro da empresa, condicionando seriamente a sustentabilidade do empreendimento e deteriorando também o ambiente de negócios.

Os recursos da empresa devem, prioritariamente, ser direcionados para as atividades fins (core business) da empresa e evitar que sejam dispendidos recursos em atividades/bens que não estejam associados ao aumento do volume de negócios da empresa.

As opções de investimento nas empresas podem condicionar o desenvolvimento do empreendimento, caso desviar recursos escassos para “investimentos” que não estão relacionados diretamente com a geração de receitas (bens de capital) isto é, que possam melhorar a competitividade da empresa e aumentar o volume de negócios.

Muitas vezes é notório o equívoco cometido no investimento de empresas, confundindo passivo com ativo, isto é, fala-se frequentemente em fazer “investimento” na empresa, sendo que na contabilidade patrimonial esses “investimentos” são considerados muitas vezes como passivos e deixam a empresa com mais encargos porque aumentam as despesas sem uma correspondente contrapartida nas receitas. Portanto, não tem nada de inteligente fazer “investimentos” que só provocam despesas no fluxo de caixa.

O aumento de casos de empresas em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com as receitas disponíveis tem levado á deterioração do ambiente de negócios e cria expectativas pessimistas entre os empresários. Esta situação tem reduzido os investimentos, gerado perdas na capacidade de consumo e, por conseguinte, limitando a geração de empregos na economia e o crescimento económico. Nota-se perfeitamente que investir na educação financeira dos empresários é uma opção inteligente para promover o crescimento económico e melhoria no ambiente de negócios.

A educação financeira encontra-se associada á habilidade individual para tomar decisões apropriadas na gestão financeira e criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro. Na empresa ela reveste de grande importância tendo em consideração o impacto que a falência de empresas tem no bem-estar coletivo.



quarta-feira, 6 de maio de 2020

Educação financeira e globalização


Muitos consumidores não possuem maturidade emocional suficiente para resistir ao apelo do consumo de luxo e supérfluo, tornando-se presas fáceis para as empresas de marketing e do padrão de consumo da sociedade globalizada.

Algumas das consequência do processo da Globalização são, a mudança nos hábitos de consumo, a mundialização do padrão de consumo e a homogeneização da “referência de escolha” de produtos pelos consumidores. Diversos países, embora sendo pobres, apresentam um padrão de consumo semelhante aos países já desenvolvidos isto é, usufruem dos mesmos bens de consumo da classe média de países ricos, ostentando os mesmos carros, computadores, roupas, eletrodomésticos, casas, alimentação etc, sem terem a noção da enorme diferença em termos do esforço relativo que tem de fazer para obter esses bens, em comparação com os países ricos (ex: um carro nos EUA pode custar 1 salario-mínimo mas em cabo Verde este mesmo caro custa 30 salarios-mínimo isto é, para termos um mesmo bem o nosso esforço é 30 vezes maior).

O padrão de consumo é divulgado pela mídia e torna-se referência para a maior parte da população. Uma vez adotado o hábito de consumo, torna-se difícil de abrir mão dele.

A educação financeira permite ter capacidade de resistir ao consumo supérfluo imediato e, está condicionada á estrutura de incentivos que a sociedade apresenta. Infelizmente, muitas decisões de gasto são determinadas por fatores emocionais tais como a vaidade, a ostentação, o desejo e o impulso. Neste contexto é imprescindível a criação de incentivos económicos, sociais, morais etc que possam orientar a população no processo de decisão.

O contacto mais frequente com a propaganda, facilitada pela globalização, tem moldado o padrão de consumo e criado hábitos de compra nitidamente insustentáveis porém, altamente aliciante e viciante. O comportamento de compra desenfreada de bens de consumo de luxo é fortemente incentivado pelo padrão moral/cultural da nossa sociedade que, nitidamente, valoriza o “ter” e o “parecer” em detrimento do “ser”. Levando as famílias a sobre-endividamentos com compras de bens de consumo duráveis (ex: casas e carros) o que, por sua vez, limita o desenvolvimento do País.

Esta situação, na ausência de mecanismos económicos de regulação tende a criar um círculo vicioso em que se satisfaz o ego e a vaidade porém, compromete o desenvolvimento da sociedade.

terça-feira, 5 de maio de 2020

O sobreendividamento e o ambiente de negocios


A perceção dos empresários quanto ao ambiente de negócios depende diretamente das condições de facturamento da empresa. Muitas vezes, a situação de endividamento das famílias acaba por gerar ineficiências no mercado através de perdas do poder de compra e do nível de endividamento insustentável. Quando diminui a procura das famílias, diminui-se o facturamento das empresas, gera-se expectativas pessimistas quanto ao futuro da economia e reduz-se os investimentos das empresas e, por conseguinte, limita-se o crescimento económico e geração de empregos.

O aumento de casos de famílias em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com o rendimento familiar disponível devido á escolha errada das opções de investimento tem deteriorado o ambiente de negócios. A situação de famílias endividadas tem proporcionado um clima de pessimismo entre os empresários, influencia uma perceção muito negativa quando ao ambiente de negócios, para além de estar associada às perdas na capacidade de consumo e na qualidade de vida da população. Ainda, pode-se citar as consequências associadas ao stress financeiro que, por sua vez, traz problemas mentais, emocionais, afetivos, perda de laços sociais, perdas na auto-estima, conflitos conjugais, exclusão social entre outros problemas que se tornaram cada vez mais presentes na sociedade Caboverdiana e que reforçam a urgência de se conter o endividamento excessivo das famílias.

O sobreendividamento já é uma realidade incontornável em Cabo Verde e exige implementação de políticas públicas específicas para mitigar os efeitos do mesmo no ambiente de negócios e na qualidade de vida da sociedade.

Cláudia Marques, que tem dedicado a pesquisas sobre este assunto, define sobreendividamento como "a impossibilidade global do devedor - pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, de pagar todas suas dívidas atuais e futuras de consumo”.

Segundo a mesma investigadora, quando o consumidor, espontaneamente, abusa do crédito e o utiliza de forma excessiva, extrapolando as possibilidades do seu orçamento, existe o sobreendividamento ativo. No caso do sobreendividamento passivo, a causa não é o abuso do crédito ou a má gestão orçamentária, mas um "acidente da vida" (desemprego, redução de salários, enfermidades crônicas, divórcio, acidentes, mortes etc.), o consumidor não contribui diretamente para o inadimplemento global de suas dívidas.

Qualquer dos casos traz consequencias negativas para a percepção do ambiente de negocios no País.

A mal educação financeira dos agentes económicos, a influência das técnicas de vendas modernas, marketing, propaganda e pressão social, podem levar a decisões pouco racionais ou ineficientes na afetação de recursos das famílias e está diretamente relacionado aos casos de sobreendividamento. Ainda, frequentemente o consumo das famílias além de ser determinado por aspetos emocionais, geralmente é financiado com recursos de terceiros, a juros elevados, o que acaba por aumentar o endividamento das famílias.

Em vários países o sobreendividamento é considerado um problema social que é determinado por um conjunto de aspetos sociológicos, psicológicos, económicos e jurídicos. Esta constatação implica uma solução mais concertada e vai depender de uma efetiva intervenção do estado (ex: programas de educação financeira) e um quadro jurídico específico destinado a prevenir e limitar as chances de endividamento crônico.

A educação financeira, como um conjunto amplo de orientações e esclarecimentos sobre posturas e atitudes adequadas/saudáveis no planeamento e uso dos recursos financeiros pessoais, pode ajudar a reduzir o sobreendividamento. Educação financeira encontra-se associada á habilidade individual para tomar decisões apropriadas na gestão financeira de modo a evitar a ruína do consumidor, sob o aspecto econômico, social e moral e visa preservar o próprio mercado/ambiente de negocios, haja vista que isso depende da "saúde" financeira do consumidor e da sua participação no ciclo produtivo.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Empresário com educação financeira, precisa-se!


A ideia de que a prosperidade das empresas depende de um controle efetivo do fluxo de caixa é verdadeira. Cada dia que passa estamos sendo confrontados com a necessidade de conhecimentos mais apurados sobre temas ligados a finanças tais como orçamento, ativo, passivo, fluxo de caixa, balança patrimonial, poupança, fundo de maneio, juros e investimento.
A elevada taxa de mortalidade de empresas, o aumento de casos de empresas em risco de falência e com dificuldades em honrar os seus compromissos financeiros ao final do mês indica por si só que é necessário melhorar a educação financeira dos empresários.
Essa elevada taxa de mortalidade das empresas pode ser melhor classificada de “suicidio” em vez de “homicidio”. Frequentemente as pessoas costumam atribuir o seu insucesso aos outros em vez de assumir as responsabilidades de sua má gestão.

Muitos empreendedores arriscam grande soma de recursos em projetos de empresas que muitas vezes não alcançam sucesso. Grande parte do insucesso se deve ao próprio comportamento do “empresário” que infelizmente não soube diferenciar um passivo patrimonial de um ativo patrimonial, não soube controlar o seu fluxo de caixa, não adota o prolabore etc. Muitas vezes o empresário gasta grande soma de recursos em itens que são autênticos passivos patrimoniais pelo facto de que além de não aumentarem as receitas da empresa, aumentam os custos operacionais e dificultam, de certa forma, a sustentabilidade financeira do empreendimento.

Portanto, saber usar corretamente os escassos recursos da empresa é uma arte que precisa ser apreendida desde cedo tanto nos custos de investimentos como nos custos de funcionamento no sentido de evitar gastos em itens que não estejam relacionados ao aumento efetivo das receitas da empresa.
Numa situação em que os recursos estão escassos e cada vez mais caros, faz todo sentido investir na educação financeira dos empresários para que possam fazer melhores escolhas na utilização dos recursos e aumentar as suas chances de sobrevivência e sustentabilidade financeira.

Convém clarificar que a educação financeira basicamente tem como objectivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir e gastar os recursos da empresa. Alerta para uma gestão mais efetiva do fluxo de caixa, especialmente nas questões associadas ao fundo de maneio e prolabore.

Os empresários precisam melhorar a literacia financeira e esta será uma condição necessária para enfrentar os desafios do mercado e garantir a sobrevivência do negócio. Conhecimento prudente para evitar escolhas erradas das opções de investimento, gastos desnecessários e afetação deficiente dos recursos da empresa.

É necessário uma avaliação do impacto de cada “ativo” da empresa no fluxo de caixa pois, não faz sentido manter um tal “ativo” que só provoca despesas no fluxo de caixa.

sábado, 2 de maio de 2020

Limitações culturais à Educação financeira


Segundo a OCDE, Educação Financeira é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que com informação, formação e orientaçãoclaras possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidose, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda, adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar e, assim, tenham a possibilidade de contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.

A educação financeira encontra-se associada á habilidade individual para tomar decisões apropriadas na gestão financeira e criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro.

Os nossos costumes, as nossas tradições, crenças e valores acabam por moldar o nosso “modelo mental do dinheiro” e frequentemente, se o assunto dinheiro não é adequadamente tratada, pode-se frequentemente encontrar indivíduos adultos imaturos em lidar com o dinheiro e sem a verdadeira dimensão do dinheiro na sua vida. Comprando tudo por impulso para satisfazer vaidades e caprichos. Sem resistir ao gasto supérfluo.

Embora sendo consensual a importância da educação financeira, existem algumas restrições culturais que faz com que o enriquecimento ainda é visto por muita gente como uma evidência incontestável de que o individuo possui “Kontratukuxuxu” e, os indivíduos bem-sucedidos financeiramente, seja alvo de desconfiança, discriminação e isolamento social.

Neste contexto, é muito difícil prosperar a ideia do “empreendedor” e, as decisões de uso do dinheiro são tomadas numa logica de curto prazo, com medo de acumular riquezas e ostentar algo visível que possa atrair atenção e repressão social, como se, de algo de muito grave, se tratasse.

O uso inteligente do dinheiro é um desafio que a nossa sociedade tem pela frente principalmente, neste contexto de agravamento do endividamento de famílias, empresas e do próprio Estado.A necessidade de sobrevivência dos nossos empreendedores neste ambiente cada vez mais competitivo impõe que a literacia financeira seja um assunto que não pode ser negligenciado.Deve-se promover as boas práticas e moldar comportamentos, hábitos e posturas em relação ao dinheiro. As crenças populares, que dificultam seriamente a educação financeira devem ser erradicadas.