A perceção dos empresários quanto ao ambiente de negócios
depende diretamente das condições de facturamento da empresa. Muitas vezes, a
situação de endividamento das famílias acaba por gerar
ineficiências no mercado
através de perdas do poder de compra e do nível de endividamento
insustentável. Quando diminui a procura das famílias, diminui-se o facturamento
das empresas, gera-se expectativas pessimistas quanto ao futuro da economia e
reduz-se os investimentos das empresas e, por conseguinte, limita-se o
crescimento económico e geração de empregos.
O aumento de casos de famílias em situação na
qual são incapazes de pagar suas dívidas com o rendimento familiar disponível
devido á escolha errada das opções de investimento tem deteriorado o ambiente de negócios. A
situação de famílias endividadas tem proporcionado um clima de pessimismo entre
os empresários, influencia uma perceção muito negativa quando ao ambiente de
negócios, para além de
estar associada às perdas na capacidade de consumo e na qualidade
de vida da população.
Ainda, pode-se citar as consequências associadas ao stress financeiro que, por sua vez, traz
problemas mentais, emocionais, afetivos, perda de laços sociais, perdas na auto-estima, conflitos
conjugais, exclusão social entre outros problemas que se tornaram cada vez mais presentes na
sociedade Caboverdiana e que reforçam a urgência de se conter o endividamento
excessivo das famílias.
O
sobreendividamento já é uma realidade incontornável em Cabo Verde e exige
implementação de políticas públicas específicas para mitigar os efeitos do
mesmo no ambiente de negócios e na qualidade de vida da sociedade.
Cláudia Marques, que tem dedicado a pesquisas sobre
este assunto, define sobreendividamento como "a impossibilidade global do
devedor - pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, de pagar todas suas
dívidas atuais e futuras de consumo”.
Segundo a mesma investigadora, quando o consumidor,
espontaneamente, abusa do crédito e o utiliza de forma excessiva, extrapolando
as possibilidades do seu orçamento, existe o sobreendividamento ativo. No caso
do sobreendividamento passivo, a causa não é o abuso do crédito ou a má gestão
orçamentária, mas um "acidente da vida" (desemprego, redução de
salários, enfermidades crônicas, divórcio, acidentes, mortes etc.), o
consumidor não contribui diretamente para o inadimplemento global de suas
dívidas.
Qualquer dos casos traz consequencias negativas para a
percepção do ambiente de negocios no
País.
A mal educação financeira dos
agentes económicos, a influência das técnicas de vendas modernas, marketing,
propaganda e pressão
social, podem levar a decisões pouco racionais ou ineficientes na afetação
de recursos das famílias e está diretamente relacionado aos casos de
sobreendividamento. Ainda, frequentemente o consumo das famílias além de ser
determinado por aspetos emocionais, geralmente é financiado com recursos de
terceiros, a juros elevados, o que acaba por aumentar o endividamento das
famílias.
Em
vários países o sobreendividamento é considerado um problema social que é
determinado por um conjunto de aspetos sociológicos, psicológicos, económicos e
jurídicos. Esta constatação implica uma solução mais concertada e vai depender
de uma efetiva intervenção do estado (ex: programas de educação financeira) e
um quadro jurídico específico destinado a prevenir e limitar as chances de endividamento crônico.
A educação financeira, como um conjunto amplo
de orientações e esclarecimentos sobre posturas e atitudes adequadas/saudáveis no
planeamento e uso dos recursos financeiros pessoais, pode ajudar a reduzir o
sobreendividamento. Educação financeira encontra-se associada á habilidade individual
para tomar decisões apropriadas na gestão financeira de modo a evitar a ruína do consumidor,
sob o aspecto econômico, social e moral e visa preservar o próprio mercado/ambiente
de negocios, haja vista que isso depende da "saúde" financeira do
consumidor e da sua participação no ciclo produtivo.
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