Os dados publicados pelo BCV, no seu
relatório semestral sobre a estabilidade financeira confirmam o que há muito já
era evidente. Grande parte das famílias Caboverdianas “investem” em passivos
patrimoniais, o que lhes deixam mais pobres. Infelizmente esse assunto não é facilmente
percebido e é geralmente agravado pelo facto de que a sociedade/famílias ao
perseguirem o sonho de ter casa própria, decidem mais com base na emoção do que
com base na “razão”.
A grande maioria das famílias decidem
financiar a casa própria sem ter feito previamente uma poupança, sem fazer o
planeamento financeiro familiar e sem se aperceberem das consequências futuras
das suas decisões na compra da casa do sonho. Muitas vezes influenciadas pelo
marketing bem elaborado das imobiliárias, facilidade do governo com
bonificações, assédio dos bancos e, pressionadas pela sociedade de consumo
acabam por optar pela compra de um imóvel, muitas vezes acima da real
capacidade financeira da família.
Frequentemente, a decisão de comprar
uma casa esta associada a motivos nobres tais como garantir algum património
para o filho. Este é um dos erros mais frequentes entre as nossas famílias que
culturalmente tendem a deixar a casa para os filhos como herança. Embora a
nossa história tem demonstrado que a melhor herança que os pais podem deixar
aos filhos é a educação e também, garantir aos filhos uma infância e
adolescência sem muitas carências para que cresçam saudáveis, sem traumas
emocionais, frustrações etc muitas famílias ainda comprometem o futuro dos
filhos através de compromissos financeiros de longo prazo. Neste contexto, a
decisão da família em comprar a casa própria deve ser precedida de muita
ponderação principalmente, se a segurança futura do filho é o motivo para este
“investimento”.
Grande parte da população não
consegue perceber os detalhes e as consequências das suas opções em relação ao
dinheiro. Esquecem que o preço que tem de pagar pela pressa em ter casa e carro
são os juros e as carências que os filhos terão de passar ao longo de vários
anos em troca da ostentação da casa comprada, muitas vezes, para satisfazer um
desejo ou vaidade. Esquecem o fato de que para garantir uma vida tranquila para
os filhos deveriam deixar como herança uma poupança ou um património que é um
ATIVO que lhe dá rendimentos (como empresas, acções, aplicações financeiras
etc) ao invés de um património que é um PASSIVO (como casa, carro etc) que lhe
deixa mais pobre.
O nível de endividamento das famílias
é uma das maiores ameaças para se garantir a estabilidade financeira no País
sendo portanto necessário investir fortemente na educação financeira, como forma
de permitir que as famílias tomem melhores decisões na alocação dos escassos
recursos.
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