segunda-feira, 11 de maio de 2020

Educação financeira e a estabilidade do sistema financeiro


Os dados publicados pelo BCV, no seu relatório semestral sobre a estabilidade financeira confirmam o que há muito já era evidente. Grande parte das famílias Caboverdianas “investem” em passivos patrimoniais, o que lhes deixam mais pobres. Infelizmente esse assunto não é facilmente percebido e é geralmente agravado pelo facto de que a sociedade/famílias ao perseguirem o sonho de ter casa própria, decidem mais com base na emoção do que com base na “razão”.

A grande maioria das famílias decidem financiar a casa própria sem ter feito previamente uma poupança, sem fazer o planeamento financeiro familiar e sem se aperceberem das consequências futuras das suas decisões na compra da casa do sonho. Muitas vezes influenciadas pelo marketing bem elaborado das imobiliárias, facilidade do governo com bonificações, assédio dos bancos e, pressionadas pela sociedade de consumo acabam por optar pela compra de um imóvel, muitas vezes acima da real capacidade financeira da família.

Frequentemente, a decisão de comprar uma casa esta associada a motivos nobres tais como garantir algum património para o filho. Este é um dos erros mais frequentes entre as nossas famílias que culturalmente tendem a deixar a casa para os filhos como herança. Embora a nossa história tem demonstrado que a melhor herança que os pais podem deixar aos filhos é a educação e também, garantir aos filhos uma infância e adolescência sem muitas carências para que cresçam saudáveis, sem traumas emocionais, frustrações etc muitas famílias ainda comprometem o futuro dos filhos através de compromissos financeiros de longo prazo. Neste contexto, a decisão da família em comprar a casa própria deve ser precedida de muita ponderação principalmente, se a segurança futura do filho é o motivo para este “investimento”.

Grande parte da população não consegue perceber os detalhes e as consequências das suas opções em relação ao dinheiro. Esquecem que o preço que tem de pagar pela pressa em ter casa e carro são os juros e as carências que os filhos terão de passar ao longo de vários anos em troca da ostentação da casa comprada, muitas vezes, para satisfazer um desejo ou vaidade. Esquecem o fato de que para garantir uma vida tranquila para os filhos deveriam deixar como herança uma poupança ou um património que é um ATIVO que lhe dá rendimentos (como empresas, acções, aplicações financeiras etc) ao invés de um património que é um PASSIVO (como casa, carro etc) que lhe deixa mais pobre.

O nível de endividamento das famílias é uma das maiores ameaças para se garantir a estabilidade financeira no País sendo portanto necessário investir fortemente na educação financeira, como forma de permitir que as famílias tomem melhores decisões na alocação dos escassos recursos.

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