A resposta parece óbvia mas, infelizmente, o que se verifica é que muitas famílias decidem pelo juro ao financiarem a casa própria sem ter feito previamente uma poupança, sem fazer o planeamento financeiro familiar e sem se aperceberem das consequências das suas decisões na compra da casa do sonho. Muitas vezes influenciadas pelo marketing bem elaborado das imobiliárias, facilidade do governo com bonificações, assédio dos bancos e, pressionadas pela sociedade de consumo acabam por optar pela compra de um imóvel, muitas vezes acima da real capacidade financeira da família.
As prestações a serem pagas em 25 ou 30 anos escondem o facto de que a partir do dia da assinatura do contrato de financiamento o Banco vai se tornar “membro” da família e beneficia de parte do orçamento familiar. Para ele sempre fica a maior parte do rendimento familiar e será sempre o primeiro a garantir a sua parcela. Todas as prestações, principalmente, as de longo prazo de amortização são compostas de duas partes (a amortização do empréstimo e os juros). Por exemplo, um financiamento de 5.000.000$00 (Cinco mil contos), para ser pago em 30 anos, a taxas de juros de 10%a.a, implica um desembolso familiar de aproximadamente 43.879$00 mensais e no final de 30 anos já terá pago cerca de 15.796.288$00 sendo mais de 10.000.000$00 pagos somente para os juros. Isto é, para ter uma casa ao final de 30 anos a família decidiu dar duas casas para o banco e uma casa velha (com 30 anos de idade) para o filho. Uma família que decide fazer este negócio realmente optou pelos juros em detrimento do filho.
Frequentemente, a decisão de comprar uma casa esta associada a motivos nobres tais como garantir algum património para o filho. Este é um dos erros mais frequentes entre as nossas famílias que culturalmente tendem a deixar a casa para os filhos como herança. A história tem demonstrado que a melhor herança que os pais podem deixar aos filhos é a educação e também, garantir aos filhos uma infância e adolescência sem muitas carências para que cresçam saudáveis, sem traumas emocionais, frustrações etc. Neste contexto, a decisão da família em comprar a casa própria deve ser precedida de muita ponderação principalmente, se a segurança futura do filho é o motivo para este “investimento”.
Grande parte da população não consegue perceber os detalhes e as consequências das suas opções em relação ao dinheiro. Esquecem que o preço que tem de pagar pela pressa em ter casa e carro são os juros e as carências que os filhos terão de passar ao longo de 30 anos em troca da ostentação da casa comprada, muitas vezes, para satisfazer um desejo ou vaidade. Esquecem o fato de que para garantir uma vida tranquila para os filhos deveriam deixar como herança uma poupança ou um património que é um ativo (que lhe dá rendimentos, como empresa, acções, aplicações financeiras etc) ao invés de um património que é um passivo (lhe deixa mais pobre, como casa, carro etc).
Seria mais sensato se as famílias optassem pelos filhos. Resistindo á tentação de compra imediata da casa própria e optassem por fazer uma poupança para comprar a casa mais tarde ou deixar o dinheiro poupado para os filhos decidirem, posteriormente, o que fazer com essa riqueza. Essa ideia esta de acordo com o princípio da subsidiaridade da doutrina da igreja católica (ver ponto 187).