domingo, 22 de maio de 2011

Decida. Seu filho ou juros

A resposta parece óbvia mas, infelizmente, o que se verifica é que muitas famílias decidem pelo juro ao financiarem a casa própria sem ter feito previamente uma poupança, sem fazer o planeamento financeiro familiar e sem se aperceberem das consequências das suas decisões na compra da casa do sonho. Muitas vezes influenciadas pelo marketing bem elaborado das imobiliárias, facilidade do governo com bonificações, assédio dos bancos e, pressionadas pela sociedade de consumo acabam por optar pela compra de um imóvel, muitas vezes acima da real capacidade financeira da família.
As prestações a serem pagas em 25 ou 30 anos escondem o facto de que a partir do dia da assinatura do contrato de financiamento o Banco vai se tornar “membro” da família e beneficia de parte do orçamento familiar. Para ele sempre fica a maior parte do rendimento familiar e será sempre o primeiro a garantir a sua parcela. Todas as prestações, principalmente, as de longo prazo de amortização são compostas de duas partes (a amortização do empréstimo e os juros). Por exemplo, um financiamento de 5.000.000$00 (Cinco mil contos), para ser pago em 30 anos, a taxas de juros de 10%a.a, implica um desembolso familiar de aproximadamente 43.879$00 mensais e no final de 30 anos já terá pago cerca de 15.796.288$00 sendo mais de 10.000.000$00 pagos somente para os juros. Isto é, para ter uma casa ao final de 30 anos a família decidiu dar duas casas para o banco e uma casa velha (com 30 anos de idade) para o filho. Uma família que decide fazer este negócio realmente optou pelos juros em detrimento do filho.
Frequentemente, a decisão de comprar uma casa esta associada a motivos nobres tais como garantir algum património para o filho. Este é um dos erros mais frequentes entre as nossas famílias que culturalmente tendem a deixar a casa para os filhos como herança. A história tem demonstrado que a melhor herança que os pais podem deixar aos filhos é a educação e também, garantir aos filhos uma infância e adolescência sem muitas carências para que cresçam saudáveis, sem traumas emocionais, frustrações etc. Neste contexto, a decisão da família em comprar a casa própria deve ser precedida de muita ponderação principalmente, se a segurança futura do filho é o motivo para este “investimento”.
Grande parte da população não consegue perceber os detalhes e as consequências das suas opções em relação ao dinheiro. Esquecem que o preço que tem de pagar pela pressa em ter casa e carro são os juros e as carências que os filhos terão de passar ao longo de 30 anos em troca da ostentação da casa comprada, muitas vezes, para satisfazer um desejo ou vaidade. Esquecem o fato de que para garantir uma vida tranquila para os filhos deveriam deixar como herança uma poupança ou um património que é um ativo (que lhe dá rendimentos, como empresa, acções, aplicações financeiras etc) ao invés de um património que é um passivo (lhe deixa mais pobre, como casa, carro etc).
Seria mais sensato se as famílias optassem pelos filhos. Resistindo á tentação de compra imediata da casa própria e optassem por fazer uma poupança para comprar a casa mais tarde ou deixar o dinheiro poupado para os filhos decidirem, posteriormente, o que fazer com essa riqueza. Essa ideia esta de acordo com o princípio da subsidiaridade da doutrina da igreja católica (ver ponto 187).

terça-feira, 17 de maio de 2011

Educação financeira e a paciência

Há um tempo para tudo e um tempo para todo o propósito debaixo do céu” (livro eclesiastes, 3.1)
“Paciência é uma virtude de manter um controle emocional equilibrado, sem perder a calma, ao longo do tempo. É a capacidade de persistir em uma atividade difícil, tendo ação tranqüila e acreditando que você irá conseguir o que quer, de ser perseverante, de esperar o momento certo para certas atitudes. Ser paciente é ser educado” (Wikipédia)
Portanto, a educação financeira tem como uma das suas atribuições capacitar os indivíduos para resistirem à tentação do consumo imediato em função de benefícios futuros. Devemos ser capazes de resistir ao “AGORA” e ter paciência, isto é, devemos respeitar o tempo que as coisas precisam ter para se realizar. Nada se consegue sem sacrifício. Se o nosso sonho é ter a “casa própria”, devemos ter a capacidade e a coragem de sacrificar parte do nosso consumo presente para que possamos realizar o sonho sem comprometer a sustentabilidade da família. Infelizmente poucas pessoas conseguem resistir à tentação do consumo e acabam por tomar decisões de forma precipitada, muitas vezes por impulso, num momento de grande emoção e sem ter a consciência do que a família vai abrir mão para realizar este sonho. Frequentemente essas decisões têm consequências graves para a família, debilitando a coesão familiar, trazendo para dentro da “casa nova” o stress, os juros, a depressão, a prestação, a falta de paciência, o medo de perder o emprego entre outras enfermidades psicológicas que acabam por deixar sem sentido todo o propósito da realização do “investimento”.
A educação financeira esta associada à disciplina, comportamento e comprometimento com o nosso futuro. A paciência e o empenho em conseguir uma vida melhor para a família deve ser buscada por qualquer indivíduo, porém não é fácil. Muitas vezes precisamos de ajuda na forma de educação financeira e apoio psicológico que nos permite alcançar maior maturidade em relação aos nossos comportamentos. Entretanto, para o nosso país - uma sociedade em que muitas pessoas são motivadas por “basofaria”, vaidade, ostentação etc - somente com a intervenção do estado por meio de “incentivos” (ex: Impostos sobre o património etc) é que será possível permitir às famílias fazerem melhores escolhas.
A maturidade emocional é fundamental na determinação dos nossos comportamentos em relação ao dinheiro, e por isso a educação financeira deve começar muito cedo, em casa e reforçada nas escolas para moldar a nossa relação com o dinheiro. É necessário saber discernir os gastos para satisfazer os nossos desejos dos gastos por necessidade. É necessário que as famílias adoptem o hábito de elaborar o planeamento financeiro, com objectivos nítidos a serem alcançados a longo prazo e exercitar a PACIÊNCIA necessária para aguardar o tempo previsto.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Educação financeira e empreendedorismo


Embora se reconheça a importância da promoção do empreendedorismo no desenvolvimento de países, as estratégias tem-se centrado nos aspectos formais relacionados com abertura de empresas, capacitação técnica, plano de negócios, crédito etc, negligenciando questões mais importantes que se relacionam com os aspectos informais, tais como a cultura, valores, traços da personalidade dos empreendedores, racionalidade económica-financeira, responsabilidade fiscal e social dos empresários que condicionam o sucesso de qualquer empreendimento e limita de forma significativa o desenvolvimento económico do país.

Um dos aspectos informais que condiciona de forma evidente a sobrevivência e o sucesso do empreendedor é a inteligência financeira, algo que não é ensinado no sistema formal de ensino e que a sociedade de certa forma tem dado pouca atenção dificultando a melhoria da inteligência financeira dos cabo-verdianos. O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para tratar o “dinheiro” com inteligência e estratégia para tirar proveito do seu bom manuseio.
Neste contexto, nota-se que é necessário maior investimento na educação financeira da população para promover o empreendedorismo e permitir maior controlo sobre a situação financeira.
A educação financeira basicamente tem como objectivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir.

As decisões de investimento devem ser feitas de forma racional em vez de serem determinadas por factores emocionais tais como a vaidade, ostentação e impulso. A sociedade de consumo e técnicas modernas de Marketing torna a educação financeira um grande desafio para as famílias. A dificuldade em resistir a uma “tentação” do consumo é cada vez maior dada a diversidade e preço cada vez mais convidativa dos produtos.

A pouca inteligência financeira tem condicionado o desenvolvimento pessoal, familiar, empresarial e até de vários países. As opções das famílias na hora de fazer investimentos são determinantes na melhoria da qualidade de vida das mesmas no futuro. Da mesma forma, a pratica de reinvestimento é determinante na melhoria da competitividade e sobrevivência da empresa e, também, as opções de investimento do governo podem condicionar o desenvolvimento sustentável do país, ao desviar recursos escassos para empreendimentos que não estão relacionados a bens de capital que possam melhorar a competitividade do país ou gerar efeitos multiplicadores na economia.

Frequentemente, as escolhas das famílias ao comprarem casas e automóveis são guiadas por objectivos nobres tais como garantir a segurança da família, provisão sobre as incertezas do futuro porém, do ponto de vista financeiro são péssimas escolhas porque a família necessita de fluxo de renda constante para ficar segura isto é, entrada liquida de dinheiro ao longo do mês é que determina a qualidade de vida e bem-estar das famílias e empresas.

Diversos livros deixam evidente que o importante não é o património detido mas sim o fluxo de caixa (quantidade de dinheiro disponível) que é determinante para o bem-estar das famílias, empresas e estados. O livro Educação financeira de autoria de José Pio Martins indica algumas regras para as famílias alcançarem liberdade financeira e bem-estar de forma sustentável dando algumas sugestões tais como: interessar-se pelos assuntos financeiros, estudar, organizar e implementar o planeamento financeiro e disciplinar os gastos familiares.

O aumento de casos de famílias em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com o rendimento familiar disponível devido á escolha errada das opções de investimento ou pouca educação financeira tem levado á semi-marginalidade de grande parte da classe média, com perdas na capacidade de consumo, perda de qualidade de vida, stress financeiro que traz problemas mentais, emocionais, perda de laços sociais entre outros problemas que nos leva a insistir sobre a urgência de se aumentar a inteligência financeira da população tendo em vista o aumento do crédito fácil, maior disponibilidades e variedades de produtos financeiros (Ex: micro-crédito), pouco conhecimento da população sobre assuntos financeiros, má gestão de finanças pessoais e familiares, pressão financeira inesperada etc. O maior esclarecimento dos consumidores estimula maior competição e permite desenvolvimento de produtos mais adequados ás suas necessidades permitindo o desenvolvimento do sistema financeiro nacional.

O governo de Cabo Verde já deixou claro que uma das estratégias de desenvolvimento do País se encontra alicerçada na promoção do sector privado para que ele seja o motor do desenvolvimento nacional, entretanto, sem investimentos na educação financeira essa estratégia não será sustentável e o resultado é continuarmos a ter uma economia que cresce porém não gera empregos.