Embora se reconheça a importância da promoção do empreendedorismo no desenvolvimento de países, as estratégias tem-se centrado nos aspectos formais relacionados com abertura de empresas, capacitação técnica, plano de negócios, crédito etc, negligenciando questões mais importantes que se relacionam com os aspectos informais, tais como a cultura, valores, traços da personalidade dos empreendedores, racionalidade económica-financeira, responsabilidade fiscal e social dos empresários que condicionam o sucesso de qualquer empreendimento e limita de forma significativa o desenvolvimento económico do país.
Um dos aspectos informais que condiciona de forma evidente a sobrevivência e o sucesso do empreendedor é a inteligência financeira, algo que não é ensinado no sistema formal de ensino e que a sociedade de certa forma tem dado pouca atenção dificultando a melhoria da inteligência financeira dos cabo-verdianos. O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para tratar o “dinheiro” com inteligência e estratégia para tirar proveito do seu bom manuseio.
Neste contexto, nota-se que é necessário maior investimento na educação financeira da população para promover o empreendedorismo e permitir maior controlo sobre a situação financeira.
A educação financeira basicamente tem como objectivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir.
As decisões de investimento devem ser feitas de forma racional em vez de serem determinadas por factores emocionais tais como a vaidade, ostentação e impulso. A sociedade de consumo e técnicas modernas de Marketing torna a educação financeira um grande desafio para as famílias. A dificuldade em resistir a uma “tentação” do consumo é cada vez maior dada a diversidade e preço cada vez mais convidativa dos produtos.
A pouca inteligência financeira tem condicionado o desenvolvimento pessoal, familiar, empresarial e até de vários países. As opções das famílias na hora de fazer investimentos são determinantes na melhoria da qualidade de vida das mesmas no futuro. Da mesma forma, a pratica de reinvestimento é determinante na melhoria da competitividade e sobrevivência da empresa e, também, as opções de investimento do governo podem condicionar o desenvolvimento sustentável do país, ao desviar recursos escassos para empreendimentos que não estão relacionados a bens de capital que possam melhorar a competitividade do país ou gerar efeitos multiplicadores na economia.
Frequentemente, as escolhas das famílias ao comprarem casas e automóveis são guiadas por objectivos nobres tais como garantir a segurança da família, provisão sobre as incertezas do futuro porém, do ponto de vista financeiro são péssimas escolhas porque a família necessita de fluxo de renda constante para ficar segura isto é, entrada liquida de dinheiro ao longo do mês é que determina a qualidade de vida e bem-estar das famílias e empresas.
Diversos livros deixam evidente que o importante não é o património detido mas sim o fluxo de caixa (quantidade de dinheiro disponível) que é determinante para o bem-estar das famílias, empresas e estados. O livro Educação financeira de autoria de José Pio Martins indica algumas regras para as famílias alcançarem liberdade financeira e bem-estar de forma sustentável dando algumas sugestões tais como: interessar-se pelos assuntos financeiros, estudar, organizar e implementar o planeamento financeiro e disciplinar os gastos familiares.
O aumento de casos de famílias em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com o rendimento familiar disponível devido á escolha errada das opções de investimento ou pouca educação financeira tem levado á semi-marginalidade de grande parte da classe média, com perdas na capacidade de consumo, perda de qualidade de vida, stress financeiro que traz problemas mentais, emocionais, perda de laços sociais entre outros problemas que nos leva a insistir sobre a urgência de se aumentar a inteligência financeira da população tendo em vista o aumento do crédito fácil, maior disponibilidades e variedades de produtos financeiros (Ex: micro-crédito), pouco conhecimento da população sobre assuntos financeiros, má gestão de finanças pessoais e familiares, pressão financeira inesperada etc. O maior esclarecimento dos consumidores estimula maior competição e permite desenvolvimento de produtos mais adequados ás suas necessidades permitindo o desenvolvimento do sistema financeiro nacional.
O governo de Cabo Verde já deixou claro que uma das estratégias de desenvolvimento do País se encontra alicerçada na promoção do sector privado para que ele seja o motor do desenvolvimento nacional, entretanto, sem investimentos na educação financeira essa estratégia não será sustentável e o resultado é continuarmos a ter uma economia que cresce porém não gera empregos.
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