segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Educação financeira e incentivos

“Os incentivos são a pedra de toque da vida moderna. Entendê-los – ou, na maior parte das vezes, investigá-os – é a chave para solucionar praticamente qualquer enigma, dos crimes violentos à trapaça nos esportes ou ao namoro na internet.”  Steven Levitt

A economia como ciência, embora não tenha alcançado, ainda, a maturidade que se verifica nas ciências exactas, tem registado progressos consideráveis em termos metodológicos e relaxamento dos pressupostos básicos tais como o princípio da racionalidade. Um dos aspectos que pode-se citar para justificar essa opinião é o contributo dado pela economia comportamental. Essa corrente da economia tem utilizado os recursos da psicologia para entender o comportamento dos agentes económicos e fornecer bases psicológicas mais realistas para entender o processo decisório dos consumidores e produtores.
Defende-se que o comportamento dos consumidores é moldado pelos diferentes incentivos que existem na sociedade e somos previsivelmente irracionais nas nossas decisões. O comportamento não é aleatório mas sim sistemático e pode-se criar mecanismos de incentivo para permitir melhores decisões.
Geralmente os agentes económicos não têm consciência da sua limitada racionalidade e não conseguem melhorar a sua situação, ficando em condições sub-otimas. Esse problema surge principalmente quando os consumidores não possuem maturidade emocional suficiente para resistir o apelo ao consumo de luxo e supérfluo, tornando-se prezas fáceis para as empresas de marketing e do padrão de consumo supérfluo da sociedade globalizada.
Uma consequência do processo da Globalização é a mudança nos hábitos de consumo, mundialização do padrão de consumo e homogeneização da “referência de escolha” de produtos pelos consumidores. Diversos países, embora sendo pobres, apresentam um padrão de consumo semelhante a países já desenvolvidos isto é, usufruem dos mesmos bens de consumo da classe média de países ricos, ostentando os mesmos carros, computadores, roupas, electrodomésticos, casas, alimentação etc, sem terem a noção da diferença absurda do esforço relativo que tem de fazer para obter esses bens em comparação com os países ricos.
Esse padrão de consumo é divulgado pela mídia e torna-se referência para a maior parte da população. Uma vez adoptado o hábito de consumo torna-se difícil de abrir mão dele. Também, sendo na sua grande maioria bens de consumo importado, tem pouco contributo para o processo de acumulação de capital e portanto limita o crescimento económico do País.

A educação financeira permite ter capacidade de resistir ao consumo supérfluo imediato e está condicionada á estrutura de incentivos que a sociedade apresenta. Deve-se garantir que as decisões de investimento/gasto sejam feitas de forma racional em vez de serem determinadas por factores emocionais tais como a vaidade, ostentação, desejo e impulso. Neste contexto é imprescindível a criação de incentivos económicos, sociais, morais etc que possa orientar a população no processo de decisão.
O contacto mais frequente com a propaganda, facilitada pela globalização, tem moldado o padrão de consumo e criado habitos de compra nitidamente insustentáveis porém, altamente aliciante e viciante. O comportamento de compra desenfreada de bens de consumo de luxo (entendendo como luxo os bens que participam de forma significativa no orçamento familiar) é fortemente incentivado pelo padrão moral/cultural da nossa sociedade que, nitidamente, valoriza o “ter” e o “parecer” em detrimento do “ser”. Levando as famílias a sobre-investimentos em bens de consumo (ex: casas e carros) o que, por sua vez, limita o desenvolvimento do País.
Esta situação, na ausencia de mecanismos económicos de regulação tende a criar um circulo vicioso em que se satisfaz o ego e a vaidade porém, compromete o desenvolvimento da sociedade.
A estrutura dos incentivos na sociedade é fundamental para contornar esta situação e por isso é urgente analisar uma engenharia de incentivos eficiente que possa moldar o comportamento racional dos agentes económicos e permitir a acumulação de capital.
Uma sugestão interessante e que foi adoptada em vários países vem da politica fiscal especificamente, da tributação patrimonial. A efectiva tributação do património é um excelente estabilizador automático da economia e tem o poder de moldar o comportamento e a racionalidade dos consumidores. Nesta actual conjuntura nacional a tributação patrimonial é, sem dúvida, o mecanismo mais eficiente e sustentável para aumentar a educação financeira e garantir a prosperidade nacional.

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