sexta-feira, 15 de maio de 2020

Educação financeira e desenvolvimento económico



“Nada estabelece limites tão rígidos á liberdade quanto a falta de dinheiro”
John Kenneth Galbraith

Actualmente o empreendedorismo tem sido um tema constantemente debatido em vários encontros, palestras e seminários e, já consta em várias propostas de políticas económicas para promover o desenvolvimento económico. Em Cabo Verde, dentro da estratégia do governo de reforçar o sector privado como motor do desenvolvimento esse tema tem merecido grande destaque.

Embora se reconheça a importância da promoção do empreendedorismo no desenvolvimento de países, as estratégias tem-se centrado apenas nos aspectos formais relacionados com abertura de empresas, capacitação técnica, crédito, plano de negócios etc, negligenciando questões mais importantes que se relacionam com os aspectos informais, tais como a cultura, valores, traços da personalidade dos empreendedores, racionalidade económica e financeira etc que, em última instancia, condicionam o sucesso de qualquer empreendimento e limita de forma significativa o desenvolvimento económico do país.

Um dos aspectos informais que condiciona de forma evidente a sobrevivência e o sucesso do empreendedor é a inteligência financeira, algo que não é ensinado no sistema formal de ensino e que a sociedade, de certa forma, tem dado pouca atenção. O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para tratar o “dinheiro” com inteligência e estratégia no sentido de tirar melhor proveito do seu bom manuseio. Ainda, o hábito da poupança ainda não faz parte da nossa cultura; demonstramos ser impacientes e imprudentes no uso do dinheiro e os nossos gastos são determinados factores tais como a vaidade, a ostentação, o desejo e o impulso, limitando consideravelmente o desenvolvimento do País.

A educação financeira segundo a OCDE, é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que com informação, formação e orientação claras possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda, adoptar outras acções que melhorem o seu bem-estar e, assim, tenham a possibilidade de contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.

A limitada inteligência financeira dos agentes económicos tem sido um entrave significativo no processo de desenvolvimento do país e frequentemente pode ser observado pela predominância dos aspectos emocionais na escolha entre as alternativas de investimentos; concentração dos investimentos das famílias em bens de consumo duráveis tais como imóveis e automóveis, geralmente importados e financiados com recursos de terceiros (que aumenta o endividamento das famílias e o deficit na Balança Comercial).

Neste contexto, na ausência da literacia financeira, nota-se uma padronização do investimento das famílias á imitação das opções dos vizinhos, sem uma análise prévia e racional, gerando um círculo vicioso de ineficiências perpetuado por uma espécie de externalidade negativa que não condiz com os princípios de “liberdade de escolha” dos indivíduos. Muitas vezes é notório o equívoco cometido no investimento de famílias, empresas e inclusive governos, confundindo passivo com activo isto é, fala-se frequentemente em fazer “investimento” na casa própria ou num automóvel e até infra-estruturas, sendo que na contabilidade patrimonial esses bens são considerados muitas vezes como passivos e nos deixam mais pobres porque aumentam as nossas despesas mensais (com prestações nos bancos, impostos, juros, combustíveis, seguros, reposição de peças, manutenção etc) sem uma correspondente contrapartida em receitas. Portanto, não tem nada de inteligente manter um “activo” que só provoca despesas no fluxo de caixa.

Frequentemente as escolhas das famílias são guiadas por objectivos nobres tais como garantir a segurança familiar, provisão sobre as incertezas do futuro porém, do ponto de vista financeiro são péssimas escolhas porque a família necessita de um fluxo de rendimento constante para ficar segura isto é, a entrada liquida de dinheiro ao longo do mês é que determina a qualidade de vida e bem-estar das famílias e empresas. Como se diz, e é consenso, não importa o quanto de dinheiro ganhou na vida mas sim, o quanto de dinheiro que conseguiu conservar que vai determinar o seu futuro.

O aumento de casos de famílias em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com o rendimento familiar disponível devido á escolha errada das opções de investimento tem levado á semi-marginalidade de grande parte da classe média, com perdas na capacidade de consumo, perda de qualidade de vida, stress financeiro que traz problemas mentais, emocionais, perda de laços sociais entre outros problemas nos leva a insistir sobre a urgência de se aumentar a inteligência financeira da população. Além de uma condição essencial para alcançar maior prosperidade de famílias, empresas e do país, provavelmente, é também um dos instrumentos mais eficazes no combate á pobreza.

Esse tema sempre foi uma preocupação de vários países (Austrália, França, Canada, Irlanda, Holanda, Malásia, Cingapura, Brasil, Reino Unido, EUA etc) que já incluíram o tema educação financeira nas escolas. Actualmente num cenário de agravamento do endividamento de famílias, empresas e governo em Cabo Verde parece ser inadiável e imprescindível a implementação de um Programa Nacional para a Educação Financeira.

Embora não seja evidente para muitos indivíduos que nós gastamos muito mal o nosso dinheiro, a realidade é que grande maioria do património familiar são classificados como passivos, que na verdade nos deixam com menos liquidez para enfrentar os desafios de curto prazo e ter qualidade de vida.

Tendo em conta que a escolha das opções de afectação dos recursos é moldada pela estrutura dos incentivos que existe na sociedade é urgente analisar uma engenharia de incentivos mais eficiente que possa moldar o comportamento racional dos agentes económicos e permitir maior inteligência financeira.

A efectiva tributação do património é o instrumento que tem a função de moldar o comportamento e a racionalidade das famílias e é, sem dúvida, o mecanismo mais eficiente e sustentável para aumentar a educação financeira e garantir o desenvolvimento do País.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Educação financeira para os empreendedores da economia solidaria


A economia solidaria parece ser uma opção factível para o governo promover o desenvolvimento e permitir maior inclusão socioprodutiva de grande parcela da população. Grande parte dos aspetos formais para o sucesso dos empreendimentos de economia solidaria já estão criadas porém, um dos maiores desafios para o desenvolvimento desta modalidade de organização do sistema económico encontra-se nos aspetos informais tais como a pouca inteligência financeira e pouca inteligência social, que está relacionada com os aspetos de solidariedade, organização social, redes sociais, confiança mútua, entre ajuda, reciprocidade, compromisso cívico entre outros, cujo deficit tem condicionado o sucesso de varias instituições fundamentais (ex: famílias, cooperativas, associações etc).

Um dos aspetos informais que condiciona de forma evidente a sobrevivência e o sucesso é a inteligência financeira dos empreendedores na área da economia solidaria, algo que não é ensinado no sistema formal de ensino e que a sociedade de certa forma tem dado pouca atenção. O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para tratar o “dinheiro” com inteligência e estratégia para tirar proveito do seu bom manuseio. Portanto, a pouca educação financeira tem condicionado o sucesso de muitos empreendimentos especialmente nos negócios inseridos na economia solidária (onde muitos empreendedores, ingenuamente, não são exigentes consigo mesmo sobre a melhoria da sua capacitação em lidar com o dinheiro e estratégia organizacional etc).

A educação financeira basicamente tem como objetivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir. Muitos empreendimentos não conseguem sustentar o sucesso devido á pouca inteligência financeira dos seus promotores. Isto é, vários empreendedores, com pouca educação financeira, não conseguem fazer uma boa gestão do fluxo de caixa e por vezes encontram-se em situações em que não conseguem pagar suas contas e honrar compromissos. Geralmente, a pouca educação financeira não permite que o empreendedor perceba a importância da poupança e do reinvestimento para a sustentabilidade dos negócios e, frequentemente eles não conseguem implementar nem o fundo de maneio, correndo risco de falência.

Muitas vezes a promoção da economia solidaria vem associada a estruturas de microfinanças para apoiar os investimentos. A facilidade no acesso ao crédito não pode ser confundido com relaxamento em termos de compromissos com a gestão criteriosa do dinheiro. É imprescindível que as entidades de financiamento adotem serviços de assistência técnica para promover a educação financeira.
É imprescindível melhorar a compreensão dos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com mais informações, formação e orientação pode-se conhecer melhor as oportunidades e riscos e, poder fazer melhores escolhas e desta forma aumentar as chances de sucesso dos negócios da economia solidaria.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Educação financeira e a estabilidade do sistema financeiro


Os dados publicados pelo BCV, no seu relatório semestral sobre a estabilidade financeira confirmam o que há muito já era evidente. Grande parte das famílias Caboverdianas “investem” em passivos patrimoniais, o que lhes deixam mais pobres. Infelizmente esse assunto não é facilmente percebido e é geralmente agravado pelo facto de que a sociedade/famílias ao perseguirem o sonho de ter casa própria, decidem mais com base na emoção do que com base na “razão”.

A grande maioria das famílias decidem financiar a casa própria sem ter feito previamente uma poupança, sem fazer o planeamento financeiro familiar e sem se aperceberem das consequências futuras das suas decisões na compra da casa do sonho. Muitas vezes influenciadas pelo marketing bem elaborado das imobiliárias, facilidade do governo com bonificações, assédio dos bancos e, pressionadas pela sociedade de consumo acabam por optar pela compra de um imóvel, muitas vezes acima da real capacidade financeira da família.

Frequentemente, a decisão de comprar uma casa esta associada a motivos nobres tais como garantir algum património para o filho. Este é um dos erros mais frequentes entre as nossas famílias que culturalmente tendem a deixar a casa para os filhos como herança. Embora a nossa história tem demonstrado que a melhor herança que os pais podem deixar aos filhos é a educação e também, garantir aos filhos uma infância e adolescência sem muitas carências para que cresçam saudáveis, sem traumas emocionais, frustrações etc muitas famílias ainda comprometem o futuro dos filhos através de compromissos financeiros de longo prazo. Neste contexto, a decisão da família em comprar a casa própria deve ser precedida de muita ponderação principalmente, se a segurança futura do filho é o motivo para este “investimento”.

Grande parte da população não consegue perceber os detalhes e as consequências das suas opções em relação ao dinheiro. Esquecem que o preço que tem de pagar pela pressa em ter casa e carro são os juros e as carências que os filhos terão de passar ao longo de vários anos em troca da ostentação da casa comprada, muitas vezes, para satisfazer um desejo ou vaidade. Esquecem o fato de que para garantir uma vida tranquila para os filhos deveriam deixar como herança uma poupança ou um património que é um ATIVO que lhe dá rendimentos (como empresas, acções, aplicações financeiras etc) ao invés de um património que é um PASSIVO (como casa, carro etc) que lhe deixa mais pobre.

O nível de endividamento das famílias é uma das maiores ameaças para se garantir a estabilidade financeira no País sendo portanto necessário investir fortemente na educação financeira, como forma de permitir que as famílias tomem melhores decisões na alocação dos escassos recursos.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Educação financeira e regulação económica



“O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”
Bíblia Sagrada (Timóteo 6:10)

Toda a moderna teoria económica está assente na capacidade de auto-regulação, perfeição do sistema de mercado e no princípio da racionalidade dos agentes económicos. Não precisamos fazer muito esforço para deixar evidente o facto de que existem falhas no sistema de mercado e muitas pessoas apresentam limitada racionalidade. O aspecto preocupante é que essa situação é mais regra do que excepção.

Todos os indivíduos são susceptíveis a influências do ambiente que nos rodeia (efeitos do contexto), a emoções irrelevantes, à imprevidência e a outras formas de irracionalidade que condicionam a sua capacidade de tomar decisões correctas em termos da utilização dos escassos recursos.

A existência de falhas de mercado relacionadas com a racionalidade limitada dos agentes económicos, informação incompleta, externalidades, assimetria de informação entre outras, tem justificado a necessidade de regulação económica como forma de alcançar maior eficiência nos mercados.


A racionalidade limitada, a informação imperfeita, influência das técnicas de vendas modernas, marketing e facilidades de crédito pode levar a decisões pouco racionais ou ineficientes na afectação de recursos, gerando externalidades negativas e ineficiências no mercado. Frequentemente, os consumidores ditos “livres” e soberanos mas, ignorantes em termos financeiro - devido á racionalidade limitada e informação incompleta - são levados a um nível de endividamento insustentável. Esta situação requer maior regulação no mercado de crédito no sentido de proteger a economia e permitir maior eficiência na utilização dos recursos e evitar a situação de imparidades/inadimplência que cada ano tem aumentado no País.

A pouca inteligência financeira e a limitada racionalidade tem padronizado o investimento das famílias á imitação das opções dos vizinhos, sem uma análise financeira intertemporal prévia. Essa situação é nitidamente uma situação característica da “falha de mercado”, no sentido de que as opções individuais estão de certa forma condicionadas pela escolha dos vizinhos. É uma espécie de externalidade que pode ser negativa, caso a escolha de investimento - ao seguir a maioria - lhe deixar mais pobre.

Infelizmente, muitas pessoas fazem escolhas pobres na selecção dos investimentos, dificultando o alcance de um melhor desempenho da economia. Esta situação não é desejável porque se trata nitidamente de uma situação sub-ótima e requer mecanismos e incentivos para levar a economia a uma situação de melhor ambiente de negócios no mercado.

A crise financeira de 2008 alertou para a necessidade de maior regulação nos mercados financeiros e da disponibilidade de maiores informações para dar suporte às decisões dos agentes económicos.

A habilidade financeira, nos dias de hoje, é uma competência que precisa ser melhorada para que os cidadãos comuns tomem melhores decisões. Portanto, a educação financeira da população é um dos melhores instrumentos para a regulação económica ao mesmo tempo que a regulação do mercado de crédito ajuda na melhoria da educação financeira.


quinta-feira, 7 de maio de 2020

Educação financeira na empresa



Quem compra o que não precisa, um dia precisará vender o que precisa
Provérbio árabe


A educação financeira basicamente tem como objetivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir.

O assunto “dinheiro” tem sido ignorado em todas as esferas da sociedade e muitos adultos tem demonstrado limitada maturidade para lidar com o “dinheiro” e frequentemente levam esta “imaturidade financeira” para dentro da empresa, condicionando seriamente a sustentabilidade do empreendimento e deteriorando também o ambiente de negócios.

Os recursos da empresa devem, prioritariamente, ser direcionados para as atividades fins (core business) da empresa e evitar que sejam dispendidos recursos em atividades/bens que não estejam associados ao aumento do volume de negócios da empresa.

As opções de investimento nas empresas podem condicionar o desenvolvimento do empreendimento, caso desviar recursos escassos para “investimentos” que não estão relacionados diretamente com a geração de receitas (bens de capital) isto é, que possam melhorar a competitividade da empresa e aumentar o volume de negócios.

Muitas vezes é notório o equívoco cometido no investimento de empresas, confundindo passivo com ativo, isto é, fala-se frequentemente em fazer “investimento” na empresa, sendo que na contabilidade patrimonial esses “investimentos” são considerados muitas vezes como passivos e deixam a empresa com mais encargos porque aumentam as despesas sem uma correspondente contrapartida nas receitas. Portanto, não tem nada de inteligente fazer “investimentos” que só provocam despesas no fluxo de caixa.

O aumento de casos de empresas em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com as receitas disponíveis tem levado á deterioração do ambiente de negócios e cria expectativas pessimistas entre os empresários. Esta situação tem reduzido os investimentos, gerado perdas na capacidade de consumo e, por conseguinte, limitando a geração de empregos na economia e o crescimento económico. Nota-se perfeitamente que investir na educação financeira dos empresários é uma opção inteligente para promover o crescimento económico e melhoria no ambiente de negócios.

A educação financeira encontra-se associada á habilidade individual para tomar decisões apropriadas na gestão financeira e criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro. Na empresa ela reveste de grande importância tendo em consideração o impacto que a falência de empresas tem no bem-estar coletivo.



quarta-feira, 6 de maio de 2020

Educação financeira e globalização


Muitos consumidores não possuem maturidade emocional suficiente para resistir ao apelo do consumo de luxo e supérfluo, tornando-se presas fáceis para as empresas de marketing e do padrão de consumo da sociedade globalizada.

Algumas das consequência do processo da Globalização são, a mudança nos hábitos de consumo, a mundialização do padrão de consumo e a homogeneização da “referência de escolha” de produtos pelos consumidores. Diversos países, embora sendo pobres, apresentam um padrão de consumo semelhante aos países já desenvolvidos isto é, usufruem dos mesmos bens de consumo da classe média de países ricos, ostentando os mesmos carros, computadores, roupas, eletrodomésticos, casas, alimentação etc, sem terem a noção da enorme diferença em termos do esforço relativo que tem de fazer para obter esses bens, em comparação com os países ricos (ex: um carro nos EUA pode custar 1 salario-mínimo mas em cabo Verde este mesmo caro custa 30 salarios-mínimo isto é, para termos um mesmo bem o nosso esforço é 30 vezes maior).

O padrão de consumo é divulgado pela mídia e torna-se referência para a maior parte da população. Uma vez adotado o hábito de consumo, torna-se difícil de abrir mão dele.

A educação financeira permite ter capacidade de resistir ao consumo supérfluo imediato e, está condicionada á estrutura de incentivos que a sociedade apresenta. Infelizmente, muitas decisões de gasto são determinadas por fatores emocionais tais como a vaidade, a ostentação, o desejo e o impulso. Neste contexto é imprescindível a criação de incentivos económicos, sociais, morais etc que possam orientar a população no processo de decisão.

O contacto mais frequente com a propaganda, facilitada pela globalização, tem moldado o padrão de consumo e criado hábitos de compra nitidamente insustentáveis porém, altamente aliciante e viciante. O comportamento de compra desenfreada de bens de consumo de luxo é fortemente incentivado pelo padrão moral/cultural da nossa sociedade que, nitidamente, valoriza o “ter” e o “parecer” em detrimento do “ser”. Levando as famílias a sobre-endividamentos com compras de bens de consumo duráveis (ex: casas e carros) o que, por sua vez, limita o desenvolvimento do País.

Esta situação, na ausência de mecanismos económicos de regulação tende a criar um círculo vicioso em que se satisfaz o ego e a vaidade porém, compromete o desenvolvimento da sociedade.

terça-feira, 5 de maio de 2020

O sobreendividamento e o ambiente de negocios


A perceção dos empresários quanto ao ambiente de negócios depende diretamente das condições de facturamento da empresa. Muitas vezes, a situação de endividamento das famílias acaba por gerar ineficiências no mercado através de perdas do poder de compra e do nível de endividamento insustentável. Quando diminui a procura das famílias, diminui-se o facturamento das empresas, gera-se expectativas pessimistas quanto ao futuro da economia e reduz-se os investimentos das empresas e, por conseguinte, limita-se o crescimento económico e geração de empregos.

O aumento de casos de famílias em situação na qual são incapazes de pagar suas dívidas com o rendimento familiar disponível devido á escolha errada das opções de investimento tem deteriorado o ambiente de negócios. A situação de famílias endividadas tem proporcionado um clima de pessimismo entre os empresários, influencia uma perceção muito negativa quando ao ambiente de negócios, para além de estar associada às perdas na capacidade de consumo e na qualidade de vida da população. Ainda, pode-se citar as consequências associadas ao stress financeiro que, por sua vez, traz problemas mentais, emocionais, afetivos, perda de laços sociais, perdas na auto-estima, conflitos conjugais, exclusão social entre outros problemas que se tornaram cada vez mais presentes na sociedade Caboverdiana e que reforçam a urgência de se conter o endividamento excessivo das famílias.

O sobreendividamento já é uma realidade incontornável em Cabo Verde e exige implementação de políticas públicas específicas para mitigar os efeitos do mesmo no ambiente de negócios e na qualidade de vida da sociedade.

Cláudia Marques, que tem dedicado a pesquisas sobre este assunto, define sobreendividamento como "a impossibilidade global do devedor - pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, de pagar todas suas dívidas atuais e futuras de consumo”.

Segundo a mesma investigadora, quando o consumidor, espontaneamente, abusa do crédito e o utiliza de forma excessiva, extrapolando as possibilidades do seu orçamento, existe o sobreendividamento ativo. No caso do sobreendividamento passivo, a causa não é o abuso do crédito ou a má gestão orçamentária, mas um "acidente da vida" (desemprego, redução de salários, enfermidades crônicas, divórcio, acidentes, mortes etc.), o consumidor não contribui diretamente para o inadimplemento global de suas dívidas.

Qualquer dos casos traz consequencias negativas para a percepção do ambiente de negocios no País.

A mal educação financeira dos agentes económicos, a influência das técnicas de vendas modernas, marketing, propaganda e pressão social, podem levar a decisões pouco racionais ou ineficientes na afetação de recursos das famílias e está diretamente relacionado aos casos de sobreendividamento. Ainda, frequentemente o consumo das famílias além de ser determinado por aspetos emocionais, geralmente é financiado com recursos de terceiros, a juros elevados, o que acaba por aumentar o endividamento das famílias.

Em vários países o sobreendividamento é considerado um problema social que é determinado por um conjunto de aspetos sociológicos, psicológicos, económicos e jurídicos. Esta constatação implica uma solução mais concertada e vai depender de uma efetiva intervenção do estado (ex: programas de educação financeira) e um quadro jurídico específico destinado a prevenir e limitar as chances de endividamento crônico.

A educação financeira, como um conjunto amplo de orientações e esclarecimentos sobre posturas e atitudes adequadas/saudáveis no planeamento e uso dos recursos financeiros pessoais, pode ajudar a reduzir o sobreendividamento. Educação financeira encontra-se associada á habilidade individual para tomar decisões apropriadas na gestão financeira de modo a evitar a ruína do consumidor, sob o aspecto econômico, social e moral e visa preservar o próprio mercado/ambiente de negocios, haja vista que isso depende da "saúde" financeira do consumidor e da sua participação no ciclo produtivo.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Empresário com educação financeira, precisa-se!


A ideia de que a prosperidade das empresas depende de um controle efetivo do fluxo de caixa é verdadeira. Cada dia que passa estamos sendo confrontados com a necessidade de conhecimentos mais apurados sobre temas ligados a finanças tais como orçamento, ativo, passivo, fluxo de caixa, balança patrimonial, poupança, fundo de maneio, juros e investimento.
A elevada taxa de mortalidade de empresas, o aumento de casos de empresas em risco de falência e com dificuldades em honrar os seus compromissos financeiros ao final do mês indica por si só que é necessário melhorar a educação financeira dos empresários.
Essa elevada taxa de mortalidade das empresas pode ser melhor classificada de “suicidio” em vez de “homicidio”. Frequentemente as pessoas costumam atribuir o seu insucesso aos outros em vez de assumir as responsabilidades de sua má gestão.

Muitos empreendedores arriscam grande soma de recursos em projetos de empresas que muitas vezes não alcançam sucesso. Grande parte do insucesso se deve ao próprio comportamento do “empresário” que infelizmente não soube diferenciar um passivo patrimonial de um ativo patrimonial, não soube controlar o seu fluxo de caixa, não adota o prolabore etc. Muitas vezes o empresário gasta grande soma de recursos em itens que são autênticos passivos patrimoniais pelo facto de que além de não aumentarem as receitas da empresa, aumentam os custos operacionais e dificultam, de certa forma, a sustentabilidade financeira do empreendimento.

Portanto, saber usar corretamente os escassos recursos da empresa é uma arte que precisa ser apreendida desde cedo tanto nos custos de investimentos como nos custos de funcionamento no sentido de evitar gastos em itens que não estejam relacionados ao aumento efetivo das receitas da empresa.
Numa situação em que os recursos estão escassos e cada vez mais caros, faz todo sentido investir na educação financeira dos empresários para que possam fazer melhores escolhas na utilização dos recursos e aumentar as suas chances de sobrevivência e sustentabilidade financeira.

Convém clarificar que a educação financeira basicamente tem como objectivo desenvolver a competência em lidar com o dinheiro, evitando atitudes precipitadas ou emocionais na hora de investir e gastar os recursos da empresa. Alerta para uma gestão mais efetiva do fluxo de caixa, especialmente nas questões associadas ao fundo de maneio e prolabore.

Os empresários precisam melhorar a literacia financeira e esta será uma condição necessária para enfrentar os desafios do mercado e garantir a sobrevivência do negócio. Conhecimento prudente para evitar escolhas erradas das opções de investimento, gastos desnecessários e afetação deficiente dos recursos da empresa.

É necessário uma avaliação do impacto de cada “ativo” da empresa no fluxo de caixa pois, não faz sentido manter um tal “ativo” que só provoca despesas no fluxo de caixa.

sábado, 2 de maio de 2020

Limitações culturais à Educação financeira


Segundo a OCDE, Educação Financeira é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que com informação, formação e orientaçãoclaras possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidose, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda, adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar e, assim, tenham a possibilidade de contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.

A educação financeira encontra-se associada á habilidade individual para tomar decisões apropriadas na gestão financeira e criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro.

Os nossos costumes, as nossas tradições, crenças e valores acabam por moldar o nosso “modelo mental do dinheiro” e frequentemente, se o assunto dinheiro não é adequadamente tratada, pode-se frequentemente encontrar indivíduos adultos imaturos em lidar com o dinheiro e sem a verdadeira dimensão do dinheiro na sua vida. Comprando tudo por impulso para satisfazer vaidades e caprichos. Sem resistir ao gasto supérfluo.

Embora sendo consensual a importância da educação financeira, existem algumas restrições culturais que faz com que o enriquecimento ainda é visto por muita gente como uma evidência incontestável de que o individuo possui “Kontratukuxuxu” e, os indivíduos bem-sucedidos financeiramente, seja alvo de desconfiança, discriminação e isolamento social.

Neste contexto, é muito difícil prosperar a ideia do “empreendedor” e, as decisões de uso do dinheiro são tomadas numa logica de curto prazo, com medo de acumular riquezas e ostentar algo visível que possa atrair atenção e repressão social, como se, de algo de muito grave, se tratasse.

O uso inteligente do dinheiro é um desafio que a nossa sociedade tem pela frente principalmente, neste contexto de agravamento do endividamento de famílias, empresas e do próprio Estado.A necessidade de sobrevivência dos nossos empreendedores neste ambiente cada vez mais competitivo impõe que a literacia financeira seja um assunto que não pode ser negligenciado.Deve-se promover as boas práticas e moldar comportamentos, hábitos e posturas em relação ao dinheiro. As crenças populares, que dificultam seriamente a educação financeira devem ser erradicadas.